Calculado confusionismo ou intencionada ambigüidade
Carlos Morais
As delirantes declaraçons que a redacçom do mensal Novas da Galiza destaca como manchete da entrevista realizada no número de Agosto a Camilo Nogueira nom podem passar despercibidas para a esquerda independentista. Afirma o ex-candidato do BNG ao Parlamento Europeu que "O nacionalismo galego deve oferecer um projecto radical a partir da esquerda". A estas alturas, com um BNG em profunda crise interna, -cuja último episódio fôrom as demissons de dous vereadores de Ferrol-, carente de liderato, com um discurso esgotado e sem credibilidade, situado ideologicamente em parámetros centristas, com propostas e acçons de governo claramente de direita, agindo em muitas ocasions ao serviço do grande capital, resulta esperpêntico que umha das caras mais conhecidas desta força política realize afirmaçons deste calibre, mais próprias dos sensacionalistas programas televisivos que o Capital emprega para aprofundar na alienaçom de massas, do que de um dirigente político que se considera e tem fama de sério e rigoroso.
O senhor Nogueira, que tem o "mérito" de defender ideologicamente as posiçons autonomistas e social-democratas há mais de duas décadas, nom pode afirmar com tal descaramento que o movimento nacionalista que ele contribuiu para domesticar e encarreirar como força que nem questiona Espanha, nem a divisom em classes, deve ofertar propostas radicais a partir da esquerda. Ou bem o jornal nom recolheu com exactidom as suas declaraçons, o qual nom seria surpreendente, ou procura lançar um serôdio desafio a Quintana e a quem dirige o Bloco, ou entom a deturpaçom do revisionismo que professa considera que a esquerda radical som esses tam na moda foros de Porto Alegre financiados pola Internacional Socialista, os governos europeus, a Igreja Católica e o PT de Lula.
Mas dom Camilo tivo bastantes ocasions, primeiro como pretendente a líder do BNG no processo assemblear em que nom atingiu os suficientes apoios para ser o candidato à presidência da Junta da Galiza, e posteriormente na campanha do 13J, para expor e desenvolver com luxo de detalhes em que consiste o seu projecto radical a partir da esquerda para o nacionalismo.
O que sim é certo é que este tipo de entrevistas, como a orientaçom das notícias que o NGZ realiza, semelham procurar o desconcerto e a perplexidade entre os sectores operários e populares que nos últimos anos venhem pondo em andamento o novo independentismo galego, -este sim como projecto radical a partir da esquerda-, mais do que contribuir para fortalecer umha massa crítica afastada das falsas promessas com que o reformismo autonomista continua a enganar, afortunadamente cada vez menos, trabalhadoras/es, jovens e mulheres.
Umha outra hipótese que nom devemos descartar, e que as leitoras/es poderám já ter avaliado, é que, com a sua dilatada experiência e veterania, Camilo Nogueira tenha aproveitado a entrevista nesse meio para sementar contradiçons no processo político aberto neste Dia da Pátria polas forças independentistas e socialistas galegas. Embora consideremos improvável esta possibilidade, sim é umha evidência que Camilo Nogueira pretende adulterar a realidade.
No crepuscular deste mês de Agosto, é responsabilidade da militáncia comunista desmascarar todas as políticas conciliadoras que anacrónicos e milenaristas discursos continuam a defender no seio do movimento revolucionário galego. Por muita radicalidade que semelhem exprimir, por muitos apelos a "gloriosos e maquilhados passados", estas práticas que evitam realizar umha demarcaçom clara entre as posiçons de classe do soberanismo e o interclassismo do autonomismo, tam só pretendem que a nova esquerda independentista continue a ser a versom a cores do autonomismo, um mero satélite do parlamentarismo frentista. Mas hoje o cordom umbilical de que se resistem a desprender-se foi seccionado pola praxe política de centenas de experiências e luitas, polo combate intrasigente de quem sabe que, para construir um mundo novo, para levantar essa Galiza vermelha, lilás e soberana, nom servem ferramentas oxidadas e emprestadas.
Hoje, o novo independentismo socialista sabe que os dirigentes do BNG e da CIG se vendêrom ao grande capital, que Paco Rodrigues e Suso Seixo optárom por apoiar os interesses de Tojeiro na instalaçom da planta de gás de Reganosa. Que preferem defender Pescanova, Inditex ou Froiz que as condiçons de vida do povo trabalhador desempregado, precarizado, com salários em atraso, sem direitos laborais.
Viu o 11 de Março Quintana e os dirigentes do BNG e da CIG abraçados a Fraga e ao fascismo, defendendo a unidade de Espanha e a Constituiçom emanada do franquismo. Opujo-se à aplicaçom das receitas neoliberais que privatizárom serviços públicos nas cidades que governárom com o PSOE. Nom se surpreendeu quando o BNG optou por aderir à normativa isolacionista que combatera durante décadas. Segue com atençom as propostas de reforma estatutária que o BNG propugna para regenerar Espanha após ter constatado mil e umha vezes como renunciou a defender a reivindicaçom de autodeterminaçom, agora relegada para que aprendizes de burocratas profissionais a saquem de passeio na processom laica que ainda convocam nas ruas de Compostela cada 25 de Julho. Aprendeu que esse obssessivo e doentio fetichismo pola defesa da ordem social vigorante, -chame-se Monarquia, Costituiçom, Perejil, ou Democracia espanhola-, que atravessa o conjunto do nacionalismo galego, tam só constata que o prédio sobre o qual se levanta está completamente apodrecido.
O BNG ainda nom adoptou decisom algumha sobre que fazer, que posiçom adoptar, no referendo sobre a Constituiçom Europeia, a da Europa do Capital, os Estados, o Patriarcado e a Guerra.
Nom queremos participar em nengumha cerimónia da consfusom. Na Galiza, as propostas emancipadoras, libertadoras, ou seja, o projecto radical a partir de esquerda, só é defendido pola esquerda independentista. Todo o mais som excessos dialécticos provocados pola canícula; inofensivos contos de Verao.
Galiza, 30 de Agosto de 2004