Prometim ontem que hoje sim, que hoje ia postar poesia africana. Hoje vai umha mulher africana. Vamos-lhe dedicar hoje este post à nossa querida mulher africana.
Ontem umha mulher nigeriana salvava-se de morrer lapidada. Salvada do horror por um defecto de forma. Nom foi a compaixom, nem qualquer imperativo moral o que levou ao ulema a ditar a absoluçom desta mulher, desta inocente mulher cujo delito principal, nom nos enganemos, nom foi o adultério, que era a acusaçom baixo a que era julgada, mas o ter nascido mulher. Porque quando umha ordem moral inquisitorial te vigia por ser mulher...quando a tua identidade sexual e o teu rol de gênero som fonte de culpa...entom...já inventarám a razom pola que condenar-te. Já nem me lembro de como se chamava esta desventurada mulher, à que a mim me gostaria abraçar e dar-lhe alento e esperança, agora que umha estranha sorte lhe deu umha segunda oportunidade na vida. Nem me lembro do nome do triste indivíduo que exerceu a justiça em ausência total de qualquer traço de humanidade. Se nom houver defecto de forma, quê? A minha amiga, a minha irmá, a minha vizinha, a minha companheira de trabalho (porque em momentos como esse, esta mulher nigeriana ou qualquer mulher numha situaçom similar, para mim representa a todas as mulheres) teria morrido lapidada?
Hoje o nosso canto de liberdade e esperança vem da voz de umha mulher africana. Nom é umha mulher nigeriana, nem sequer muçulmana. Nom tinha ao alcance neste momento poesia feita por mulheres desde países muçulmanos. Já postarei algumha cousa de algumha escritora muçulmana. Valha neste momento este poema, para formular umha máxima. Nom há futuro para África sem a mulher!!! Nengumha mulher mais cruelmente lapidada!!! Lapidemos nós aos clérigos administradores de justiças tiránicas e aos deuses despiadados, e caminhemos de umha vez por todas cara a luz!!!
QUITANDEIRA DE LUANDA
Eh! Laranjinha, ‘aranjinha boa
Mia siôa!
Vem de longe, do Catete
Onde há batuque e quitende.
Vem de longe o seu sorriso,
Sorriso que se intromete
Sem querer nos olhos da gente.
Vem de longe o seu sorriso
Sempre fresco, sempre aberto.
E o passo ligeiro, certo,
Batendo a terra encarnada
Já quente ao sol matutino,
Revela em cada pegada
O mover airoso, fino,
De uma rainha ignorada.
Leva colar de missanga,
Panos de garrida cor.
E nos lábios-a verter
Tom de madura pitanga-
A promessa de um amor
Que é razäo do seu viver.
Leva colar de missanga,
Panos de garrida cor.
Eh! Laranjinha, ‘aranginha boa,
Mia siôa!
Cantando caju ou manga,
Maboque, ananás, mamäo,
Alta e Baixa de Luanda
O Muceque e Sabizanga
Reconhecem-lhe o prègäo
E afirmam certos poetas
Que a magia dessas cores
Que lhe enfeitam a quitanda,
Se derramou das paletas
De exotíssimos pintores
Dengosa p’la estrada fora,
Mal irrompe o claro dia,
Com tanta graça aprègoa
Que a própria aurora
É nela que se anuncia!
Eh! Laranjinha, ‘aranginha boa
Mia siô...ô...a!
MARIA EUGÊNIA LIMA