O transitar dos dias: Texto de Ramiro Vidal Alvarinho
O transitar dos dias
O transitar dos dias, comboio constante desde a solaina do mundo, olhar desde a atalaia desta nostálgia profunda; aquele devalar na praia do meu serám, de desengano, interminável relatar-me desde umha contagem subconsciente de fume e cafeina; parir lágrimas de corpo ferido na minha agonia; correr de pés descalços as areias que nunca correremos; violino, manta de agulhas de esperanças mortas...cá estou, cruel ave tornada em arqueiro, eu cervo ferido sem fontana...dita o pentagrama deste último tránsito ou leva-me ao vergel do goço eterno. Mas este caminhar pola senda da derrota, meu amor traiçoeiro, nom.
Quer este penitente ser engolido pola galerna que o abala fera e que brua, em cançom de berço brutal, a sua condenaçom. Mas escuita o derradeiro lamento do condenado e fere a tua lembrança, antes de que o sono eterno de quem vaga pola desolaçom bata na porta.
O estertor salgado diluirá-se e serás umha cicatriz no tempo. Reza o vento a solene oraçom que predica a finitude das borboletas do meu peito. As moscas de manteiga som fantasmas que embebedam o sangue com humores de sonho e cegam a razom com as cores de umha estranha febre.
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