sexta-feira, novembro 18, 2005

Um "juízo positivo" para Franco

Manuel Fraga "está que se sale", que se diria na mesetária gíria. Já nom traba a língua; nunca o fixo, mas agora menos. E quando fala para a imprensa estrangeira, entom há traca assegurada. Sempre afirmou que Franco nom era um ditador. Muitos dos que estiverom ao seu lado afirmam o mesmo. A particulariedade de Fraga é que ele se reclama democrata, cousa que outros inquebrantáveis nom fam.
Os nostálgicos do franquismo nom acreditam no sistema pluripartidarista, nem no valor do voto, nem nos parlamentos, nem nas constituiçons; desde logo nunca se declarariam autonomistas e isso das línguas co-oficiais para eles é inadmissível. Fraga, todo um animal político, autoproclama-se democrata, foi um dos redactores da constituiçom espanhola e também do estatuto de autonomia galego. Às vezes incluso se expressa em galego, e é que há que se adaptar às circunstáncias, claro. Porque a fim de contas, ele é o fundador de Alianza Popular (alma máter do Partido Popular) força política aguerridamente anti-autonomista...até que nom lhe ficou mais remédio que aceitar as autonomias, como sempre. E, apesar disso, como digo, é redactor do estatuto galego e é também o presidente da Xunta que mais durou no cadeirom presidencial (dezaseis anos!!!) Entre o seu partido e o PSOE, repartem-se as presidências da imensa maioria das autonomias. Enfim. Antontem anti-autonomistas furibundos, hoje partícipes da chupanda autonómica. Há que se adaptar, adaptar-se é sobreviver. De onde nom o baixam (a Dom Manuel) é da sua lealdade ao "Caudillo de las Españas".
Segundo ele, Franco de ditador nom tinha nada, como muito dirigiu um regime autoritário. Vamos por partes. Até onde eu sei, com efeito, o franquismo foi um regime autoritário, que nom totalitário. Totalitários som os regimes de partido único, e no franquismo nom havia propriamente partido único (a Falange nom o era, simplesmente era um dos grupos de pressom afectos a Franco) Bem. Já nom sei se na ciência política há outra definiçom para Franco que nom for a de ditador; desde logo o Caudillo, no que é o conceito que eu tenho de um ditador, calha perfeitamente. E nom fai falta que explique porquê, suponho. Aliás aquí nom há um problema de definiçons; o senhor Fraga nom estava, a última vez que dixo isto, a dar umha palestra ou a impartilhar umha aula numha faculdade de Ciências Políticas; nom estava esclarecendo-lhe umha dúvida a ninguém nem disertando sobre as diferenças entre formas de estado...estava respondendo a umha entrevista para Il Corriere della Sera, e no transcurso dessa entrevista Fraga dixo, entre outras cousas, que Franco fora um "pacificador", que nom fora um ditador, e que afinal o juízo histórico para Franco vai ser positivo. Vale.
O pior é que depois nom se lhes pode recordar, a estes senhores do Partido Popular, que determinadas individualidades do seu partido, algumhas com poder institucional, justificam e glorificam a Franco. Nom, eles som democratas, mais democratas do que ninguém. Mas rara vez aparece umha voz a replicar a quem lança bravatas fascistas; ninguém os desautoriza, nunca há conseqüências de nengum tipo para eles.
E depois nom se pode dizer tampouco que estamos num estado herdeiro do franquismo, onde se pode exaltar a figura de Franco, onde pactos subterráneos entre poderes visíveis e nom tam visíveis salvaguardam o legado e a figura de Franco, a eternidade da sua obra.
Pois assim é, estamos num estado que nom vai ser capaz de mandar a Franco ao faiado. Os franquistas nom som inabilitados, nem obrigados a pedir perdom publicamente.