quarta-feira, agosto 25, 2004

Nocturno de Nova Iorque - Poema de Ernesto Guerra da Cal

Pelo frio
Do gume frio
Da noite
Caminho duro do abrente
Entre os tremores grisalhos da madrugada
Pelas sentinas mornas
Escoa
Lento
Espesso
Manso
E choro denso
E choro mesto
O pranto imenso
Dos olhos
Da
Cidade

Olhos
Baços
Escuros
Olhos
De
Noite insone
De
Morte em vela
Das
Raças mergulhadas
No duro pesadelo de si mesmas

Chora
Israel
Soturno e oprimido
Nos sete dedos magros do Pecado

Encadeado
Na alheia geometría
Cristä
Das
Sinagogas
Chora
Pela mäo do gentil na morte da galinha
Chora
O fantasma da sua barba perdida
Buscada
Inutilmente
Entre as vogais da Torah
Incógnitas
Ausentes

E
Soluça convulso
Ao decobrir
Que as folhas do Talmud
Se lhe tornaram em papel moeda

Chora
Na espera atribulada dos rabinos
De
Negros balandraus
Pelos baixos terraços
De
Brooklyn e do Bronx
A
Nutrir a esperança
Impossível no Hudson
Do sacro Éxodo enxuto
Do
Mar Roxo

E
O preto
Chora
Atávico
A curva da serpente
E o ronsel da piroga
A carantonha eterna do fetiche
E
As quiméricas selvas evadidas
Que fogem em cascatas
De
Ervas e crocodilos
Pelas caixas sem fim dos ascensores

E
Geme
Negramente
Asfixiado
Pelas mäos brancas
Dos anjinhos loiros
Do Céu presbiteriano
Que
Com cruel loar azul-gelado
Fazem-no comungar com dólares de prata
Chora
Os seus sonhos presos
No espelho cóncavo das cuspideiras
E
O tambor congo borrifado em sangue
Nos assentos traseiros dos expressos

E
O chinês
Escorre báguas brandas
Oblíquas
De espuma e sabäo
E
Acarinha escondido
Entre signos e sedas relaídos
O dragäo diminuto
Que
Com
Arroz e amor
Criou na cave da sua lavandaria
Mentres
Sonha marfins e porcelanas
Na camisa engomada dos banqueiros
E
Nas nódoas dos lenços milionários
Procura
Desolado
O
Tao
Perdido

..........................................................
..........................................................

pelas janelas dos arranha-céus
pelos telhados
e
pelos pára- raios
surge o choro calado
que
endurece

o
choro
ilimitado
inesgotável
da
vigilia
das
raças
submersas
da
Cidade

1 Comments:

At 11:57 PM, Blogger Loba said...

O primeiro poema exigiria mais conhecimento pra comentar. Mas gosto da forma e das imagens que as palavras formam. O segundo, lindo! Tou ficando apaixonada pelos poemas galegos! rs.. Beijão

 

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