quarta-feira, agosto 11, 2004

O eterno dilema entre fidelidades... e outros temas

Ontem fum à Feira do Livro, na Corunha. Este ano, fum três dias; à inauguraçom, há quase duas semanas, o Domingo passado e ontem, que era o dia em que se clausurava a Feira. Como de costume, fixem o meu ritoal de consumismo cultural, ainda que cada ano a cita com a Feira do Livro se vê marcada em maior medida polos preços cada vez mais prohibitivos. Ainda assim, comprei. Ainda que nom exactamente o que queria comprar, o que seguramente é um indicativo de que som um mau comprador. Eu sempre compro, na Feira do Livro, dous livros; polo geral um em “galego” e outro em “português”; é umha parvoíce, provavelmente, mas eu fago-o por manter um equilíbrio entre fidelidades, ou seja, por um lado a fidelidade à minha pertença a um ámbito cultural galego, e pola outra a minha fidelidade ao ideário reintegracionista. Inclusso fago-o de umha maneira muito determinada, quero dizer, é umha questom que requer a sua cerimónia. Trato de ser fiel às minhas duas livrarias preferidas: Sisargas e Couceiro. No posto de Couceiro, este ano, comprei “Línguas e nacións em Europa”, de Daniel Baggioni, editado por Laiovento. Ontem, na caseta de Sisargas, comprei “Quando é dia de futebol”, de Carlos Drummond de Andrade. Som dous livros que prometem. Mas nom comprei um livro que queria comprar. Queria comprar “En Concreto”, de Luísa Villalta, porque como ela já nom vai poder assistir a nengumha Feira do Livro mais, ia ser como umha pequeninha homenagem. Mas enquanto Luísa me aguardava numha esquina dos Cantons de Méndez Núñez para me assinar o livro, eu falhei-lhe e nom cheguei. Espero que me saiva perdoar. Ela sabe que a aprezo, desde que nos conhecimos, lá polo ano 87, tendo ela trinta anos e eu dezaseis; sendo ela professora de Língua e eu o seu aluno. Eu era um entusiasta estudante de língua galega – deve ser umha das poucas disciplinas que apanhei com entusiasmo – e ela umha mulher atractiva e com um sentido do humor muito peculiar. Tinha um humor negro e umha ironia, provavelmente herança das conexions que, via familiar, lhe puidessem ficar com a cultura popular, mas expresados com um refinamento extremos. Era única deixando fora de lugar as impertinências daqueles rapazolos e rapazolas filh@s do auto-ódio e o desclassamento da emigraçom, nalgum caso, e da desorientaçom total que se vivia na recta final dos anos oitenta em geral, em todos os aspectos. A mocidade galega daqueles anos era...deprimentemente palurda. Era umha mulher culta e especial, que nom sei como se lhe ocorreu um dia que o seu futuro estava dando aulas de Língua, neste país, ou pior, no país que ia atopar de umha maneira imediata, quando saísse da faculdade de Filologia. Pensando de umha maneira egoísta, é impossível entender como num momento determinado toma tal decisom. O que se passa é que provavelmente ela era umha corredora de fundo nata, ou ao melhor simplesmente pensou num panorama laboral sem excessivos sobresaltos, que é o que principalmente pode oferecer o ensino...ou ao melhor as duas cousas; ao melhor há um bocadinho de romanticismo e ela pensava que desde o ensino se podia fazer ainda algumha cousa que contribuisse modestamente a transformar a sociedade e a sorte deste infortunado país. Seguramente seja por isso que a apreço e a admiro. Já comprarei esse derradeiro poemário, e quiçá esse dia dea umha volta polo cemitério de Santo Amaro, em Monte Alto, e alí, ao melhor, até pode que cruze um olhar cúmplice com a Luísa. Porquê tivo que morrer aos quarenta e sete anos, com tantas cousas por fazer e dizer, é umha pregunta que já nom me quero fazer mais. Eu inteirei-me do seu falecemento por Igor Lugrís. Estávamos a falar do recital da festa de inauguraçom do Centro Social Henriqueta Outeiro, de Compostela, que se ia celebrar em datas próximas, e quando já nos despediamos, o Igor dixo-me: “Morreu Luísa Villalta. Sabia-lo?”. Ele também se estava a inteirar nesse momento, pola página de Vieiros. Enfim, foi toda umha surpresa, umha macabra surpresa.

A questom é que eu cheguei ao posto de Sisargas e lá estava o Xurxo Souto. Eu queria comprar o poemário da Luísa Villalta, e nom o havia. Tinha dúvidas entom sobre se seguir o ritoal e comprar um livro na “norma internacional” do galego-português, ou algum livro em “galego” dos que gostaria comprar e nom sei se darei comprado no resto do ano; sobretudo alguns títulos sobre história e sobre língua, que som os meus temas preferidos...ou quiçá algum poemário (....”Número e”, de Estívaliz Espinosa...?).

Tinha que me decidir, e o Xurxo, que estava lá a substituir à irmá, fazia-me recomendaçons...e é um pau, isto de que te esteja a atender umha pessoa conhecida...e eu tinha que cumprir com o ritoal, assim que comprei este livro do Carlos Drummond Andrade, que de todos os jeitos promete, ao ser umha compilaçom de artigos sobre o poder do futebol na sociedade (brasileira) e sobre como os governos do Brasil utilizam o futebol para manipular ao povo. Interessante. Ainda que os artigos se escreverom nos anos setenta, quase nada terá cambiado a respeito deste tema, e o que tiver cambiado, terá sido seguramente a pior.

Temos que saudar, desde o Tangaranho Vermelho, umha nova iniciativa na rede; a criaçom de umha nova comunidade MSN chamada Cidadáns da Galiza (
www.cidgaliza.tk) aberta à participaçom de toda pessoa que se considerar nacionalista. Por enquanto há pouc@s membros no foro de discusom, mas já está a funcionar, à parte de haver outras secçons como um bate-papo e um foro de poesia.

Temos que saudar também umha magnífica iniciativa das Redes Escarlata, que venhem de tirar um livro dedicado à luita dos trabalhadores de Castromil, em cuja ediçom participa a Central Unitaria de Traballadores. Mais informaçom em
www.redesescarlata.org e www.elvirariveiro.blogspot.com

Tenho que voltar falar da minha caríssima Elvira Riveiro, que está a organizar a ediçom deste ano do recital “Poetas na rua”, umha iniciativa do Concelho de Poio destinada a dar a conhecer sobretudo @s poetas
nov@s. Se tens nom mais de trinta anos e queres participar, escreve a mareavermella@hotmail.com. Por enquanto, polo que puidem saber, está confirmada a participaçom da própria Elvira (como nom) Nana Coromoto e Alberte Momán. Por suposto, eu lá estarei também. E espero que a Elvira dea convencido a Alízia, para que também assista. O cenário do recital, será o casco histórico de Combarro. Muito sugestionante.

Também se achega o Festival da Poesia do Condado, que celebra em Salvaterra do Minho todos os anos a Sociedade Cultural e Desportiva do Condado (
www.scdcondado.org).

O 4 de Setembro, haverá em Salvaterra, baixo o lema “Em defesa das liberdades”, música e poesia. A parte poética, que estará conduzida por Carlos Blanco e Maria Castro Jato, poram-na Artur Alonso Novelhe, Xosé Maria Álvarez-Cáccamo, Marica Campo, Ana Belén Fernández, Carlos Figueiras, Antom Garcia Matos, Brais González Pérez, Maria Lado, Miguel Anxo Mato, Carlos Quiroga, Paula San Vicente, Marga do Val, José Luís Peixoto, Walter Hugo Mae, Jorge Reis-Sá, Sonia González e Ondjaki.

A música corre a conta de Terrakota, Mercedes Peón, Xistra de Coruxo e A Matraca Perversa.

Por último, convidar-vos a que visitedes a página
www.tarrio.tk, onde se informa da evoluiçom de umha campanha pola excarcelaçom de Xosé Tarrio, um histórico na luita polos direitos das pessoas presas (do que falaremos mais adiante nesta página) que está a passar por momentos realmente difíceis. Desde aquí um grito de liberdade que derrube os muros dos cárceres de extermínio.

1 Comments:

At 11:00 PM, Blogger Loba said...

Quando li o título, imaginei outra espécie de fidelidade! Melhor que tenha sido apenas essa...rs... hj meu raciocinio está tortíssimo! Mas fica valendo o que sinto em relação a esta palavrinha: sou fiel aos meus sentimentos e aos meus valores! Me basta! O texto é longo e tem outras vertentes, mas que hj não comentarei, tá? Mas gostei do que li. Beijocas

 

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