Gilberto Gil insulta Povo Galego
Gilberto Gil insulta galegos em Santiago de CompostelaPor Cultura 01/08/2004 às 00:00
A presença do cantor brasileiro e ministro da cultura, Gilberto Gil, num concerto em Santiago de Compostela na Galiza no dia 19 de julho, causou indignação aos galegos e às galegas que estavam presentes. O cantor brasileiro se dirigiu ao público galego falando em castelhano, desprezando assim a cultura e a língua portuguesa da Galiza, também chamada galega. Gilberto Gil aproveitou a eventualidade para recriminar o "nacionalismo" galego, afirmando "Temos que ser mais internacionais" e justificou o uso da língua castelhana em seu discurso dizendo "además estamos en tierras de España!".
A questão não pode ser reduzida a discussão nacionalismo X internacionalismo. Tem muito mais a ver com a luta pela autodeterminação do povo galego e pela valorização de sua própria cultura. Na espanha há vários territórios e culturas que não se consideram espanhóis. Durante a ditadura do general Francisco Franco (1939-1975) para fortalecer a imagem nacionalista e fascista de uma "Espanha unida e forte" todos esses povos foram oprimidos. Tanto o galego, quanto o catalão, o Euskera (lingua do País Basco) e outras que já estão praticamente extintas, eram consideradas ilegais. Apesar das pessoas continuarem falando e pensando em suas linguas, era crime imprimi-las, usa-las nas escolas ou repartições públicas e mesmo por falar perto de um guarda a pessoa podia ter problemas.
Tal atitude se agrava pelo fato que o cantor e ministro brasileiro conhece a situação lingüística galega, sobre a qual foi informado em 2002 quando recebeu uma carta remetida pela Assembléia da Língua a respeito da identidade lusófona da Galiza e sobre a sua precária situação.
É na Galiza que nasceu precisamente a língua portuguesa, e apesar dos mais de 500 anos de colonização que vem a sofrer por parte da Espanha castelhana, a proximidade lingüística mesmo com variedades e sotaques diferentes, permite o entendimento entre galegos, portugueses e brasileiros, sem precisar mudar a maneira de falar.
A luta do povo galego pela sua soberania política, pela preservação da milenária cultura de origem celta (que tem muito a ver com o resto de Europa atlântica e com países como Irlanda, Escócia e evidentemente Portugal) e da sua língua vem já desde o século XIX, mas sobretudo desde a ditadura espanhola.
O desprezo da cultura galega e o apoio ao espanholismo do ministro brasileiro, revela o não cumprimento da "Carta de São Paulo" - documento que defende claramente as identidades e diversidade cultural de povos do planeta - aprovado em um recente encontro de ministros e ministras da Cultura em São Paulo, no chamado "Fórum Cultural Mundial", e a relação da política brasileira com os povos que sofrem a uniformização capitalista e a assimilação lingüística e cultural mais descarnada. Como a Galiza, que dia-a-dia luta pela garantia do seu direito a existência e preservação da sua cultura.
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