segunda-feira, setembro 06, 2004

Desporto e identidades nacionais

Hoje quero reflectir sobre um assunto “doméstico”. Concretamente quixera reflectir sobre um assunto que a muitos lhes parecerá trivial, mas que a nível cultural e simbólico tem a sua importáncia, e mais num país cuja sociedade necessita referentes sólidos para reforçar a sua auto-estima colectiva.

Venhem de se clausurar recentemente os Jogos Olímpicos de Atenas, e os méios de comunicaçom radicados na Galiza derom um bombo considerável às medalhas obtidas em piragüismo polos palistas galegos Teresa Portela e David Cal. Os méios fieis a Espanha é lógico que o fagam, porque som hostís a qualquer intento de que o desporto galego tenha voz própria em competiçons internacionais. Segundo o seu discurso, os desportistas galegos ao máximo ao que podem aspirar é a representar a Espanha em eventos como as Olimpíadas, campionatos mundiais ou europeus. Mas parece-me um erro de plano por parte de méios que se dim nacionalistas apresentar estas medalhas como um logro do desporto galego ou para a Galiza. Nom digo que as medalhas careçam de mérito, e até me pode parecer lógico que o Concelho de Cangas receba com honores ao David Cal. A mim os desportistas que compitem em disciplinas individuais, som os que mais admiraçom me merecem, pola força de vontade e sacrifício dos que tenhem que fazer acópio. Mas estes desportistas, igual que o triatleta Iván Raña e outros dos que se destacava desde méios leais a Espanha as suas raízes galegas, nom competirom baixo outra bandeira que nom for a espanhola. Quando sobirom ao pódio, o que soou foi o hino da Espanha. No ránquin das medalhas, a medalha foi assignada a Espanha e, em qualquer caso desfilarom na cerimónia inaugural com a equipa olímpica espanhola. É lógico aliás que Espanha se atribua o éxito dessas medalhas, já que a fim de contas estes desportistas forom formados por Espanha. Outra cousa é que se denuncie o latrocínio de desportistas formados noutros países para que engrossem o palmarés do olimpismo espanhol.

O tema das medalhas da representaçom espanhola, algumhas conseguidas por atletas galegos, trouxo-me à memória um velho debate que de quando em vez reverdece, o debate sobre o direito das consideradas nacionalidades históricas a têr selecçons desportivas próprias. Estám-se desde há anos a dar passos no caminho de que Catalunya e Euskadi poidam concorrer com selecçons próprias nas competiçons oficiais de certos desportos. O primeiro passo já se deu há muitos anos; as selecçons basca e catalana de futebol existem ainda que nom poidam por enquanto participar em nengumha competiçom, e a sua actividade se limite a um jogo amigável ao ano. Também Andaluzia tem selecçom própria, junto com Cantábria, La Rioja...e nom sei se algumha Comunidade Autónoma mais. Galiza nom tem, pola falta de vontade política do governo autonómico, sobre tudo. Quiçá também por falta de pressom social neste tema. A cúpula federativa do futebol galego foge do tema como do demo, ao espanholismo a ideia lhe provoca umha ira mal disimulada e os directivos dos clubes nom estám dispostos a apoiar a demanda, polo menos no caso dos grandes, o Celta e o Deportivo. A reivindicaçom surgiu do sector mais jovem da afeiçom galega, principalmente de sectores juvenís das torzidas do Celta e do Deportivo.

Pouco se pede. Apenas que Galiza tenha umha selecçom de futebol própria que poida desputar um jogo ao ano, como fam as outras. Claro que os espanholistas nom som parvos. Sabem que esta reivindicaçom do sector mais nacionalista tem a ver com umha falta de identificaçom com os símbolos da “naçom espanhola”. Sabem também que umha selecçom galega de futebol, com o peso que tem o futebol na sociedade galega, seria aginha um elemento identitário que poderia ser “aproveitado” politicamente por quem pretende incutir na populaçom sentimentos que nada tenhem a ver com o patrioteirismo espanhol. Que se poderia criar umha certa fidelidade entorno a umha instituiçom que nom necessariamente iria associada à bandeira espanhola. O sentimento nacionalista galego teria um ponto de apoio num campo que nom lhe é propício normalmente, porque os senhores do futebol estám inequivocamente com Espanha. Esse é o problema; um problema político e por isso há que o plantejar em termos políticos. Nom deve causar nengum pudor que se nos risque de “meter política no futebol” quando as motivaçons para empecer umha selecçom galega som puramente políticas.

Nom devemos negá-lo; quem defendemos umha selecçom galega de futebol, quem defendemos umha lei de selecçons desportivas para Galiza, é com a esperança de um dia ver aos e às nossas desportistas a competir em eventos internacionais de carácter oficial baixo a bandeira galega. É precissamente a perspectiva, ainda que for remotíssima, da Galiza enfrentando-se à Espanha, com todo o que isso poderia significar, o que provoca o rejeitamento visceral de um espanholismo que responde sempre que há problemas muito mais importantes que resolver, mas que nom poupa beligeráncia a respeito da ideia. Adoita-se dizer que na Galiza nom há jogadores de qualidade, que umha selecçom galega faria o ridículo...mas nom pode ser esse o problema; se assim fosse quê problema haveria? Tendo em conta que essa selecçom galega nom lhe havia furtar jogadores à selecçom espanhola, nem às duas equipas galegas mais grandes...o único que realmente preocupa é o cenário de umha Galiza enfrentando-se à Espanha cá na Galiza, com um sector da afeiçom que torzesse por Galiza e, o que é pior para eles, que se alegrasse da derrota da Espanha, ou que nom ficara contente com a sua vitória. Esse e nom outro é o problema. Nom é um problema de calendário para os clubes, nem um problema de compatibilidade com a selecçom espanhola. Nem sequer um problema de viavilidade desportiva. Eu estou absolutamente seguro de que há jogadores galegos na terceira divisom espanhola que estariam encantadíssimos de jogar numha selecçom galega. Mas, repito, o problema é político. Que os que mandam agora na Galiza tenham que assistir a que o futebol se converta num fenómeno de massas inassumível para eles, onde nas bancadas apareça essa bandeira à que eles lhe tenhem tanto ódio e tanto medo ondeando de forma massiva, é a pior desgraça que lhes pode sobrevir.

1 Comments:

At 5:35 PM, Blogger Loba said...

De novo percebo aqui o anseio pela liberdade! Meu beijo

 

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