sábado, agosto 28, 2004

Artigo do Portal Galego da Língua

Achei interessante este artigo, sobretudo para aquelas e aqueles de vós que tenhades especial interesse polos temas relativos às línguas.



Uma língua austríaca?
Reforma ortográfica será obrigatória nas escolas a partir de agosto de 2005
A nova reforma ortográfica do alemão, adoptada em 1998 e actualmente em plena fase de implementação, provoca disensões que ameaçam mesmo com quebrar a unidade da língua. Por um lado, as autoridades políticas competentes (os Länder, na Alemanha) aparecem em boa medida como partidárias da aplicação das novas normas. Por outro lado, alguns editores, escritores, e até políticos na procura de um certo "populismo ortográfico", mostrarom-se abertamente hostis às mudanças. E é que estamos a falar de uma sociedade altamente desenvolvida, onde temas como a reforma ortográfica não só fão parte do cotidiano como ainda levantam fortes paixões. Na cidade de Colónia, por exemplo, vários vizinhos chegarom a chamar a polícia porque um cabeleireiro tinha escrito Haarflege (cuidado do cabelo) em vez da forma correcta Haarpflege.[+...] Especialmente significativo, pola sua transcendência, é o facto de algumas publicações da Alemanha, como a revista Der Spiegel, o jornal Der Süddeutsche Zeitung ou o tablóide Bild, terem anunciado o regresso às velhas normas. Até agora, a reforma parecia ter triunfado no mundo da imprensa, factor considerado chave para garantir a sua assunção social, mas as últimas viradas de rumo voltarom a tornar maioritária a antiga ortografia, facto que provocou uma reunião urgente das autoridades implicadas na sua implementação.
Em países como a Áustria ou a Suíça o debate também é vivido com paixão e mesmo aparece acompanhado de certas tendências disgregadoras. Na Suíça germanófona o apoio à reforma é maioritário, mesmo existindo alguns opositores, e reclama-se polo caos que suporia o regresso à antiga ortografia num país que mesmo já tem modificado todos os seus materiais pedagógicos para adaptá-los às novas normas. Tendo em conta que na Suíça o alemão padrão é quase que exclusivamente uma língua escrita, cedendo o seu lugar na fala para diversos dialectos bastante afastados do Hochdeutsch, uma situação de incerteza no relativo à escrita do padrão poderia favorecer as tendências partidárias de quebrar a forte situação de dependência diglóssica que vive o país, procedendo a codificar uma escrita propriamente suíça. Nesse caso, tendo em conta as singularidades do alemão da Suíça, teria-se avançado quase definitivamente para a consolidação de uma língua suíça independente, tal e como aconteceu historicamente com o neerlandês.
Na Áustria, porém, a situação é diferente. A maior parte do país insere-se no âmbito de distribuição tradicional do dialecto autro-bávaro, menos singular dentro do contexto dos dialectos alemães e, portanto, muito mais próximo do padrão da escrita. Essa situação fijo com que as repercussões provocadas polo debate em torno à implementação do novo acordo ortográfico tenham oscilado, no meio da confusão, entre a criação de uma língua austríaca independente e posições mais moderadas, ligadas ao que seria uma padronização endógena convergente. Em qualquer caso, parece óbvio que o desenvolvimento ou consolidação de uma entidade nacional austríaca independente da Alemanha, uma vez ultrapassado o «Anschluss» dos tempos do totalitarismo nacional-socialista, não exige da assunção de uma língua diferente, mas tampouco é compatível com um submetimento gratuito às disposições e decisões geradas na Alemanha.