Centenário do nascimento de José Bieito Abraira
JOSÉ BIEITO ABRAIRA, UM BOM E GENEROSO
José Bieito Abraira nasceu em Meira, na província de Lugo, o 31 de Julho de 1904, ainda que nos papéis apareça nado o 1 de Agosto. Na sua vila natal fijo a escola completa. Seu pai era lavrador e a par desenvolvia-se como canteiro. Ele trabalhou algo neste ofício e, também em Meira, desempenhou-se depois num comércio de roupa para homens.
De 17 anos, decide percorrer o caminho fatal dos galegos. O 25 de Maio de 1922 parte para Buenos Aires, junto dum primo coirmão homónimo, José Abraira, e desembarcam o 14 de Junho. A pouco de chegado, emprega-se na loja de roupa de homens duns patrões betanceiros, chamadas Los Petizos. Trabalha as longas jornadas entom consumadas com zelo e eficácia, tanto que, quando os donos liquidam a loja, eles mesmos se encarregam de colocá-lo num comércio de chapéus, de propriedade duns catalães, chamado Tadeo. Ali Carlos Gardel compra os seus famosos Orion, de feltro rígido e borda revirada e simpatiza com ele. Nesse âmbito os seus patrões nom falavam outra língua que a sua própria, o que fai cismar na necessidade de defender a língua e o sentimento da pátria. Falando a língua galega recuperaremos a dignidade e a liberdade, romperemos o assovalhamento colonial de séculos do povo galego. Desses anos moços conservava a memória dum amigo, Ramom Rial Seixo, as actividades da revista Céltiga e as dos coros, que daquela cumpriam a funçom que hoje os conjuntos de música celta. No Ultreia, dirigido por Manuel Prieto Marcos, cantou e ali conheceu a que seria sua mulher. Ali cresce a sua paixom galeguista, ainda que nom foi membro da Sociedade Nacionalista Pondal. Conhecia e era amigo dos mais dos seus membros, mas o compromisso fai-se nele activo na época posterior, na guerra civil. Em 1930 casa com Mercedes. Na festa da boda, na casa da noiva, cantou Suárez Picalho e tocou o piano Eduardo Branco Amor. Na casa dos sogros viverá um tempo até que, em 1934, se estabelece na rua Federico Lacroze, nº 4086, no bairro da Chacarita, onde nascerám os filhos e terá tenda de roupa no ramo que melhor conhece. Por entom já participa activamente na vida da colectividade. No ‘36 nasce-lhe o seu filho Carlos, no ano seguinte o segundo -Demétrio-- e no ‘51 Maria do Carmo.
O centenário do nascimento de Rosalia, em 1936, nom se pudo comemorar polos acontecimentos da guerra civil, na pátria e na emigraçom. No mês de Julho de 1939 fijo-se em Buenos Aires ua semana de actos, brilhantes e dignos da cantora do Sar. Abraira foi o secretário da comissom organizadora. Nestes anos já é o nacionalista activo que deixou pegada em todos os que o conhecêrom.
Associado ao Centro Galego de Buenos Aires, participa na fundaçom da agrupaçom interna A Terra. Como secretário dela no ‘40 concorre a Montevideu para receber o Guieiro Castelão, quando este veu para a Argentina. Nos dez anos posteriores da vida de Castelão, Abraira foi um dos seus amigos mais fiéis. E nom duvidava ao afirmar que conhecer Castelão foi o acontecimento central na sua vida. Desde essa chegada até a morte da senhora Virgínia -viúva de Castelão-, Abraira e a sua mulher, junto de Manuel Puente, Rodolfo Prada, Perfeito López, Luís Seco e outros, tivérom sempre o cuidado do bem-estar do ilustre matrimónio. Mortos Puente e Prada, Abraira foi recolhendo com zelo quanta documentaçom do Guieiro topou com o intuito de restituí-la à Terra. O Museu de Ponte-Vedra dispom hoje dum importante fundo da obra de Castelão mercê da constância teimuda do nosso infatigável “Tavão”. Rematando este seu labor de verdadeiro testamenteiro, em Junho de 1984 acompanhou a repatriaçom dos restos do prócer. Viajou do seu pecúlio, enquanto os que em vida lha figeram impossível fôrom com passagem oficial pagada à conta do povo galego. Deu Abraira assim, mais ua vez, cumprimento à sua obriga de lealdade a Castelão e à Galiza.
Extenso e afervorado foi o seu labor patriótico do Tavão. Ao criar-se em 1941 as Irmandades Galegas, instrumento da política galeguista de Castelão, entom presidida por Antom Alonso Rios, Abraira é seu secretário e como tal organiza as de Mendoça, Rosário e Montevideu. Aqui vemos ua constante de toda a sua vida: nunca figura adiante, sempre trabalha num segundo plano como verdadeiro motor. Pudera pensar-se que por nom ter estudos superiores lho coutava, mas equivocaríamos a análise. Por um lado, era homem de muita leitura e grande conhecimento do mundo e da política, que frequentara pessoas do maior nível intelectual; por outro, palpitava nele a paixom da eficácia estratégica e ua entrega aos ideais que reflectia fielmente a que vira em Castelão, entrega que apurou de todo qualquer rasto da vaidade pessoal, que no fundo deveu de ter mas que reprimiu.
No período 54-58, em merecido reconhecimento pola tarefa desenvolvida no seio da colectividade, integrou como vocal a Honorável Junta Directiva do Centro Galego de Buenos Aires, colaborando na comissom de cultura e acçom social. No ‘56, coincidindo com o centenário do histórico “Banquete de Conjo”, celebrou-se em Buenos Aires o Primeiro Congresso da Emigraçom Galega em América. Assistírom, entre os delegados vindos de todo o continente, Emílio Gonçález Lôpez, por Nova Iorque; Gerardo Álvarez e Maximiliano Matalobos, por Cuba; Marcial Fernández e Francisco Comessanha, por México; José Velo Mosqueira, pola Venezuela; Luís Tovio, Canaval, Meilám e Martínez Castro, por Montevideu; e Ramom Suárez Picalho, polo Chile, além de inúmeras e importantes representações da colectividade galega da Argentina. Deste congresso, presidido por Manuel Puente, Abraira também foi secretário.
Em 1968 celebrárom-se nesta cidade os “Jogos Florais do Idioma Galego”, aos que assistírom, entre outros escritores argentinos de importância, Jorge Luís Borges e Francisco Luís Bernárdez, de antepassados galego-portugueses. Abraira participou da sua organizaçom, sempre de atrás, ainda que apareça como secretário de actas.
Apaixonado, generoso e às vezes desmesurado, o seu amor à Galiza era total e irrestrito. Impulsou com Manuel Pedreira o periódico reintegracionista Pátria Galega, cujo primeiro número apareceu em Abril de 1982. Nesse mesmo ano, assina o manifesto reintegracionista que ADIGAL vem de reproduzir no seu número 4, como antecedente histórico desse movimento. Aqui quadra novamente precisar que ele era o promotor, o autor da ideia, o que punha a trabalhar os que deviam redigi-lo, assiná-lo, enfim, o que na penumbra imaginava, concebia, juntava, aguilhoava. Sua foi a ideia dos “Simpósios Internacionais da Língua Galego-Portuguesa” organizados em Buenos Aires polos Amigos do Idioma Galego, que entom eram alunos dos cursos reintegracionistas, daquela sem outra estrutura orgânica que o seu cérebro febril. O primeiro reuniu-se na Biblioteca do Centro Galego de Buenos Aires, os dias 12 e 13 de Agosto de 1983, com assistência de linguistas da Galiza, área luso-brasileira, Catalunha e a Argentina, e com a presença especial da doutora Maria do Carmo Henríquez Salido, presidenta da AGAL. O segundo Simpósio, em memória de Rosalia no centenário do seu passamento, celebrou-se no mesmo âmbito, os dias 22, 23 e 24 de Agosto de 1985, com a presidência de honra da doutora Henríquez Salido e do insigne professor doutor Ricardo Carvalho Calero. Repitamos o que já se dixo desses acontecimentos: “Cúmpre salientar que tanto nua como noutra ocasiom a organizaçom dos actos contou com a animaçom de José Bieito Abraira, o Tavão, sempre aguilhoante, às vezes enfadonho mas nunca claudicante”.
O sábado, 5 de Setembro de 1987, já convalescido dua intervençom cirúrgica, estivo como sempre nas aulas de galego reintegrado, entom ditadas fora do Instituto a causa da atitude prevalente. Sente-se mal, concorre ao Centro Galego e, ingressado, morre às dez e trinta do dia seguinte. Em 1983, ante a presidência da AGAL, predixera que antes de cinco anos teria de reunir-se com os que se adiantaram a partir. Muitos som os que lembrando as suas palavras desses momentos tenhem a convicçom de que ua percepçom quase extra-sensorial dos acontecimentos políticos que na Galiza estavam para produzir-se deitou a gota que transbordou a copa da sua tristeza e o levou a deixar-se morrer. Que a paz esteja com ele, que tempos melhores virám e o seu espírito estará presente.
4 Comments:
Bom dia meu anjo... tudo bem com vc??
Me desculpe por ontem... meu MSN estava travando, naum conseguia parar em pé.
Obrigada pelo karinho diário e por me fazer tão feliz... Bjim karinhoso
Bom dia meu anjo... tudo bem com vc??
Me desculpe por ontem... meu MSN estava travando, naum conseguia parar em pé.
Obrigada pelo karinho diário e por me fazer tão feliz... Bjim karinhoso
Acho muito interessante vc dar este espaço à cultura. Tanto apresentando poetas - com lindas poesias como "Setembro" - como com os demais post que aqui coloca. É uma bela forma de introduzir-nos - nós do lado de cá - na bela Galiza. Meu beijo, menino.
Oieee tô enrolada aqui, então tô passando prá dá bjo e matar um pouquinho da saudade de vc...volto depois prá ler, tá?
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