terça-feira, outubro 26, 2004

Manuel Álvarez Torneiro para umha tarde triste

Hoje temos umha tarde triste, de frio e névoa. Apetece...nom sair da casa para nada. Ficar a lêr um livro, de poesia, de narrativa, de ensaio...é o mesmo, o caso é dar-lhe alimento aos neurónios e ao espírito. Apetece lêr, bem quentinhos na casa, e acompanhando a boa leitura com um bom chá ou um bom café. Hoje compadeço aos que tenhem que trabalhar de tarde, porque os partes climatéricos vaticinavam ventos de cem quilómetros hora e fortes chúvias. Nom se cumpriu por enquanto, mas ainda assim nom está a tarde como para estar por fora. Eu ando agoviado de trabalho, com umha agenda apertada, sem dinheiro, mas tenho a fortuna de poder trabalhar desde a casa. O que mais me agóvia é a actividade política. Dezia-me há um par de semanas um amigo que nom há cousa pior que políticos metidos a literatos, salvo literatos metidos a políticos. E eu em quê grupo estou? A verdade é que nas mais das ocasions, devo confessar que o político lhe ganha o pulso ao literato. Nom som um bom político, mas a política tem mais peso na minha vida do que a literatura. Provavelmente se estiveramos noutro país eu nom seria político, sobraria quem fixesse o que eu fago na política.
Como digo, nom tenho dinheiro. Esta fim de semana vou a um seminário de formaçom que me vai custar bastante dinheiro em matrícula, e aliás da matrícula está a estadia, com os gastos que comporta ( o seminário será em Compostela). Por certo, que o seminário de marras me vai deixar em augas de bacalhau a minha intençom de ir a Ferrol na fim de semana, à festa do Colectivo Opaííí. E eu tinha vontade de ir a Ferrol e ver à gente de Ferrol. Em realidade, tenho a todo o mundo abandonado, e também nom me vejo muito com a gente da Corunha. Mas bom, a impossibilidade de fazer planos de umha semana para a outra praticamente nom é nada em comparaçom com as dúvidas a respeito do futuro mais ou menos imediato em temas tam trascendentes como o trabalho, as relaçons sentimentais, ou outro tipo de questons que che condicionam a vida. Estivem estes últimos dias a falar deste tema com Elvira e com Alberte. Por separado, mas coincidindo em linhas gerais, porque somos os três refens de umha situaçom sócio-laboral desastrosa e de um mundo que, em geral, nom está feito para nós. Elvira aliás tem outro tipo de problemas, que a mim nom me som alheios ainda que se me manifestem de maneira diferente. A ninguém lhe som alheios. A questom é que estamos tod@s absolutamente pres@s da incertidom e a mercê de um futuro fatalmente caprichoso.
Eu hoje também escolhim um autor a capricho...Álvarez Torneiro...porquê? E porquê nom? Desfrutemos da sua poesia e já está. Que seja este o livro que acompanhe as nossas horas de estufa, radiador ou lareira. Do seu livro “Habitante Único” extraím este poema. Se opinades que nom escolhim o melhor, seguramente teredes razom.

ÓXIDO DE SOMBRA

Están no luminoso horror dos días dun pasado perpetuo.

Están nalgún perfil de ferro frío.
Presiden unha infancia.
Ocupan unha trama de fantasmagoría.

E ás veces ven un día
Dese tempo memoria:
Sucede unha tormenta,
Avanza unha queixada mecánica de morte.


Vén un medo de limo onde a noite libaba.

E veñen nomes propios.
E cristos de castigo.
E mestres da mentira.
O grande agravio.
Unha pupila lacerando adentros.
Aquel berro insonoro.
Un ferro de cruzada, rectilíneo.
Un dominio furriel a ser futuro.

Veñen mulo e polaina.

(asubiaban un himno moi privado.
Berraban “¡Viva a morte!” na súa prehistoria.)

...ese tempo
que nin o olvido quere para cinza.

1 Comments:

At 2:43 AM, Blogger Loba said...

Não posso dizer que vc não escolheu o melhor, mas certamente escolheu um poema forte! Aliás, seu post é incisivo - ouso dizer que esta é sua marca! Embora com alguma dificuldade, gosto de te ler. É como entrar num mundo que se desconheço fisicamente, emocionalmente me parece viver muito próxima dele. Beijos, menino.

 

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