terça-feira, novembro 02, 2004

Europa e a ameaça islamista

Hoje venho de lêr na imprensa um artigo de María Xosé Queizán a respeito da presença do Islám na Europa. Vai muito na linha de certa corrente de opiniom que está a cobrar força no nosso continente, que defende a reestricçom de direitos para a comunidade muçulmá, para prevenir certas ameaças que trai consigo o crescimento da populaçom procedente de países onde a religiom de Mahomé tem maior predicamento, ou mesmo é explicitamente a religiom oficial do estado. Países onde se favoreceu a consolidaçom de viveiros para a guerra santa e que som quarteis gerais de grupos radicais islamistas, em muitos casos.

Di a María Xosé Queizán que tanto a igreja católica como a esquerda estám a ser excessivamente tolerantes com a cada vez mais manifesta presença do Islam na mesma rua, que nos calamos ante, ou mesmo favorecemos a apertura de mezquitas em cada vez mais cidades e vilas do estado espanhol, que há umha inorme permissividade com os ritos e formas de vida que a gente muçulmana procura preservar aquí, e que tudo isso está a favorecer que o extremismo islamista bote raízes em solo europeu, propagado polos próprios imans e com um caminho aberto polas próprias liberdades que as democracias ocidentais lhes reconhecem por um lado, e por um falso sentido do políticamente correcto dominante na esquerda, que sanciona como saudável o anti-americanismo mas risca de racista o anti-islamismo polo outro.

Eu, francamente, estou numha posiçom já nom oposta à que defende María Xosé Queizán, mas simplesmente pertencente a outra esfera de pensamento, onde se manejam outras conceiçons. Para começar, já estou totalmente em contra da Europa que pretende esta mulher. Entom, nom vou entrar a discutir qual deve ser a política do estado espanhol ou da Uniom Europeia para com a inmigraçom procedente dos países muçulmanos, sim direi que me oponho por princípio a que se tomem medidas especiais contra pessoas ou grupos de pessoas inmigrantes em razom do seu país de procedência ou da sua religiom. Isso de que há religions boas e religions más, eu nom o acredito. O que sim penso é que o mundo muçulmano nestes momentos está a ser cenário de fenómenos sócio-políticos que guardam analogia entre si, por ser reacçom de situaçons também similares, mas se é por potencial para a inspiraçom da violência, judaísmo e cristianismo nom vam pior servidos que a fé de mahomé nesse sentido. Que os grupos armados islamistas se camuflem entre as comunidades magrebís de certas povoaçons nom significa que toda a inmigraçom magrebí simpatice com esses grupos armados. Ao que me nego é que a ser muçulmano seja sinónimo de ser suspeito.

E no referente aos seus costumes, nom tenho nada em contra deles no entanto nom choquem com umha convivencia normal e civilizada. Nada tenho em contra do ramadám ou da oraçom diária; naturalmente sim estou em contra da ablaçom, ainda que oportuno seria recordar que a maioria da comunidade muçulmá também o está, e outra cousa bem diferente é o chador, que nom é nem de longe o mesmo que o burka.

Para afirmar que os imans, assim, em geral, amparam aos grupos armados ou instigam a violência, há que ter provas. Na própria cúria muçulmá surgirom vozes no seu dia que condenavam atentados como o da estaçom de Atocha em Madrid ou o das Torres Gémeas em Nova Iorque e que deziam que a yihad nada tinha a ver com o que Al Qaeda ou grupos similares praticavam. O Al – Corám, como todos os livros, de religiom ou do que sejam, tem o problema de que uns o podem interpretar de umha maneira, e outros de outra maneira bem diferente. E se o livro cai em maos de um iluminado que quer ver que determinada passagem desse livro o legitima para estrelar dous avions contra as Torres Gémeas, vai dar o mesmo que se prohiba a instalaçom de mezquitas ou nom, nom está aí o problema.

Algum dia terei que escrever sobre estes grupos armados dos que ultimamente se fala tanto; a Yemah Islamiya, Os Irmaos Muçulmanos, o GIA, o Frente Moro de Libertaçom...desgraçadamente, som o resultado da obra da mao ocidental nesses países, e também de umha tristíssima realidade a nível planetário. Ontem estivem a falar com um amigo um pouco informalmente do tema; à parte da resistência anti-globalizaçom que está a servir como eixo para a re-organizaçom da esquerda, existe umha anti-globalizaçom reaccionária. A essa resposta anti-globalizadora de carácter reaccionário, pertenceriam os fascismos europeus e americanos e o fundamentalismo islámico. Gostaria de que o panorama fosse outro, e houvesse algumha esperança de que a resposta anti-imperialista no mundo muçulmano fosse de esquerdas, desde logo nom tenho simpatia qualquer com o islamismo. Já tratei algo disto quando falei da guerra do Iraque.

Desde logo, nego-me a dar a razom a aqueles e aquelas que alçam a voz contra a presença do Islam na Europa, assinalando-o como um perigo para as liberdades e a mesma identidade europeia. Eu nom me reconheço na Europa que certos pensadores e opinadores profissionais querem construir, nem me reconheço em Espanha, pois som independentista galego. Mas no contexto de umha Galiza soberana e umha Europa e um mundo construidos baixo os parámetros que eu defendo, a identidade galega nom teria nada a ver nem com o lugar de nascimento, nem com a raça, e menos ainda com a religiom...um galego poderia ter nascido no Senegal, ser negro e muçulmano.

1 Comments:

At 3:58 PM, Blogger Tristão said...

Tangaranho, sempre bom ler suas crônicas, para fazer a limpeza de nossas mentes, retirar o lixo que a propaganda ideológica de direita vai aí depositando.
Acho admirável tudo o que vc escreve a propósito de temas como este. Abraço brasileiro do Tristão.

http://tristam37.blogspot.com

 

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