Cinismo
Hoje sai na Voz de Galicia um inquérito segundo o qual as três quartas partes dos galegos claramente se opunham a que os clubes de futebol profissionais recebessem ajudas oficiais. Aliás, em todas as cidades as proporçons vinham sendo quase idênticas. Cerca de um 70 ou 75 por cento estavam claríssimamente em contra, e do resto havia sempre entre um oito ou dez por cento que estava claramente a favor, e depois havia como 7-8 por cento de indiferentes e outro 7-8 por cento de NS/NC. Francamente curioso. Porque depois, quando os clubes fam pressom para que os concelhos deam cartos, ou invistam em instalaçons, ou lhes concedam algum tipo de privilégio, parece que som legiom os que secundam as suas exigências e o alcaide que nom lhes baile a auga, está condenado a ser o mau da fita. Eu ainda lembro duas bem gordas que lhe montou o Deportivo ao Concelho da Corunha - antes deste último folhom da requalificaçom de Riazor - que forom o pifóstio das pistas de atletismo, que suprimirom no estádio com o aplauso da comunidade futeboleira em geral, e sob a promesa nom cumprida, mais de dez anos depois, de fazer umhas pistas de atletismo novas. Ainda é hoje o dia que os rapazes do atletismo tenhem que treinar na Praça de Portugal, na Maestrança, no Pavilhom, ou nas pistas da Universidade. Outra boa de manda truco foi quando se plantejava a necessidade de mandar os eventos futeboleiros fora da cidade; era umha época na que o Deportivo jogava competiçons europeias e havia futebol às vezes dous dias numha semana, com o que colapsavam o tráfico rodado. Aliás, como daquela a gente sim que ia ao estádio, pois começarom a dizer desde a directiva do Deportivo que Riazor ficava pequeno já e que se impunha a construcçom de um estádio novo. Lembro os atendedores de todas as emisoras de rádio da cidade colapsados com mensagens de deportivistas de pro e corunheses de toda a vida a dizer que o Concelho lhe tinha que construir um estádio ao Deportivo. Se os galegos, com efeito, vemos mal que se ajude com dinheiro e recursos públicos aos clubes profissionais, porquê quando estes extorsionam aos organismos públicos para que lhes concedam privilégios, todo o mundo fai coro ao seu favor? Som de verdade maioria ou os méios de comunicaçom amplificam o suposto clamor popular que às vezes acompanham as exigências desses clubes? Ou é que a gente minte nestes inquéritos? Algumha cousa nom encaixa aquí. Aliás, aproveito para dizer que na Galiza parece que estamos numha espécie de mundo ao revês. Porque, assim como vemos clubes profissionais jogar em estádios de propriedade municipal (Riazor, Balaídos, A Malata...) também som muitos os clubes modestos que jogam em campos privados. Em Euskadi pode haver três, quatro, cinco clubes de um mesmo concelho ou zona que partilhem campo (campos bem cuidados, com boas instalaçons e serviços...) isso aquí é inconcevível. Em todo caso, o verdadeiramente alucinante é que os clubes de futebol profissionais cheguem ao extremo de exigir que se lhes construa um estádio mais grande e para uso exclussivo deles; ou seja que se eu amanhá monto umha empresa, poido pedir-lhe ao Concelho que me ponha umha nave no polígono de POCOMACO? ou que me presenteie um local numha rua céntrica da cidade? |