Ontem tivem umha longuíssima discusom com um dirigente de umha entidade que leva trabalhando bem anos na comarca de Trasancos na defesa da língua galega. O debate era, de novo, entorno à polémica nominalista que, dentro do próprio reintegracionismo se vem a manter absurdamente a respeito de como lhe devemos chamar ao idioma que para mim é o mesmo, de Dili a Säo Paulo, de Ortigueira a Maputo.
Em concreto, mantinha este luitador pola língua galega, cuja trajectória está fora de toda dúvida para mim, que a nossa língua era o galego ou, em qualquer caso, o galego-português, mas que nunca deveriamos aceitar a denominaçom “português” para o que aquí falávamos. Eu mantinha umha postura bem diferente. Insistim, sem sucesso nengum, pois este meu amigo ferrolano nom estava disposto a modificar nem um ápice a sua postura, em que sermos reintegracionistas consistia, essencialmente, em defendermos a unidade lingüística galego-portuguesa. E remetim-me constantemente ao manifesto da Associaçom Galega da Língua, pois ele escreve na norma AGAL e tem esta organizaçom como referente. Insistim-lhe também no inútil que resultava um debate nominalista nesta altura, debate que fica claramente resolto no citado manifesto da AGAL, já que nele se especifica que a nossa língua é denominada na Galiza como galego, mas é mundialmente conhecida como português e reconhecida cientificamente como galego-português. Mas a sua postura seguia igual de inflexível. A nossa língua seria o galego, ou em qualquer caso o galego-português. Que ele estava pola unidade lingüística galego-portuguesa, mas que entom haveria que luitar porque internacionalmente à língua se lhe chame galego ou galego português, e nom português, e que a denominaçom “português” era injuriosa e implicava um atentado contra a nossa identidade. Dezia inclusso mais. Dezia que no Porto se falaria galego, mas que em Ponte Vedra nom se falaria português, com o que eu lhe tivem que fazer ver a sua contradicçom. Porque, como digo, sermos reintegracionistas consiste em admitirmos que há umha língua, e nom duas, nem três.
Que o nacionalismo galego prefira a denominaçom "galego" para se referir à nossa língua, que insisto, é a mesma em Braga que em Macáu, em Lugo que em Luanda, nom invalida o que segue a ser umha realidade; que o manifesto da AGAL dá por legítimas todas as denominaçons. Eu também utilizo de maneira preferente a denominaçom "galego", por razons óbvias. Som nacionalista galego e acho que por umha questom de pedagogia política é muito mais prático referir-se nos escritos políticos à língua como língua galega, para remarcar a identificaçom entre povo e língua. Chamamos-lhe galego ao português porque é a língua que assumimos como própria.
Ninguém no seu sano juízo poderia negar que o galego-português nasceu no seio do Reino da Galiza. Algum nacionalista português da extrema direita sim que o nega, outros sectores reaccionários da política e a intelectualidade portuguesa afirmam o contrário, a oficialidade académica e intelectual galega passa com pés de lá sobre o assunto, nom vaiam amolar à Espanha ou a Portugal, as historiografias oficiais dos dous estados peninsulares procuram ser tam ambíguos como para nom revelar clarezas perigosas num tema que poderiam modificar maneiras de pensar na Galiza...e noutras partes do mundo...mas a ciência filológica é implacável.
Eu considero umha luita utópica e aliás inútil ir a Porto dizer-lhes aos e às habitantes dessa cidade, portuguesíssima a dia de hoje, primeiro que falamos a mesma língua, segundo que a língua que eles falam é galego, e terceiro que isto é assim porque Porto estava na Idade Meia dentro dos lindes do Reino da Galiza. Para começar, eu reivindico a Galiza como a minha naçom porque pertenço a um povo que foi desenvolvendo a sua identidade fora do estado português desde que Portugal apareceu na história como tal, isso é o que me diferencia a mim das pessoas que moram em Braga, no Porto, em Lisboa, etc...a territorialidade da naçom galega, que é umha questom ainda em debate, deverá ter como referência a Comunidade Autónoma de Galicia mais os territórios baixo a administraçom de outras comunidades autónomas do estado espanhol que som ainda de cultura e língua galegas. Se um vai a Porto a lhes dizer aos e às portuenses: "olhem; vocês falam galego e näo português e aliás säo galegos" a reacçom dos portuenses será de claro sentimento de ofensa. Provocará umha reacçom negativa que em nada vai ajudar a que por aí embaixo compreendam a nossa luita, com o vital que isso é. Pensarám que um está de troça, que como é possível que um gajo que vem de umha terra onde se fala umha mestura tam exquisita e tam difícil de perceber, que pronuncia tam forçadamente o português, pode pretender que falamos a mesma língua que ele, que aliás essa língua nom é português e que por cima nós nom somos portugueses!!! Ainda pior será se tentamos o mesmo em Angola: dirám, foda-se, nom tinhamos dabondo com os tugas, agora também venhem estes a nos colonizar.
Na Galiza o que temos que fazer com a língua, nom é andar às pancadas com o resto da lusofonia por como se chama o nosso idioma (bastante temos já com ter a Espanha de inimigo, para ainda por cima pôr na nossa contra à Lusofonia) mas usar a língua e procurar usá-la com correiçom e coerência. Hoje por hoje o panorama que temos na Galiza é o de umha língua fortemente castelhanizada, que nom ganha prestígio entre a mocidade, que nom ganha ámbitos de uso, que perde falantes...problemas todos eles muitíssimo mais graves que a discusom sobre qual deve ser o nome. O quê acontece com os inmigrantes portugueses, angolanos, brasileiros...que venhem trabalhar à Galiza? Que o primeiro que fam é aprender a falar espanhol. Porque o espanhol é a língua que abre portas e porque nem tenhem a percepçom de o galego ser português, nem em muitas ocasions tenhem sequer a percepçom de o galego ser umha língua. Varramos pois antes a casa própria.