quinta-feira, março 31, 2005

Prenda de anos

Ontem presentearom-me um caderno. Para os poemas, dixerom-me. Ainda que, ultimamente, ando um bocado lacaçam. E também ocupado de mais. Mas bom, a ver se este presente me encoraja a fazer poemas novos. Esta prenda de anos tardia, imprimiu-lhe algo de ilusom a um facto que já nom sei se pode ser, no meu caso, motivo de alegria...cumprir anos.
Obrigado a Íria, Rebeca, Genma, Vreixo, Diego, Minerva e Afonso...de quem seria a ideia? Em qualquer caso, como já dixem em privado, comprometo-me a fazer bom uso do caderno, por certo com capas de coiro e páginas em papel reciclado sem clorar...umha maravilha...

segunda-feira, março 28, 2005

Duas recomendaçons musicais

Recomendo-vos duas bandas que caminham por derroteiros musicais diferentes, que som de sítios diferentes, mas que tenhem em comum contar entre as minhas preferências por diferentes razons. Falo da banda madrilena Sugarless e da banda italiana Banda Bassotti.

quinta-feira, março 24, 2005

Soberania pessoal

O post anterior nom o fixem porque me sentisse ofendido polas palavras do Antônio Gil Hernández. Unicamente pretendia dar acuse de recibo das críticas que sem dúvida circulam sobre a minha iniciativa. Dá-me a sensaçom de que @s companheir@s da Incomunidade nom perceberom bem parte do post de ontem, e nom me estranha. Para quem nom conheça a sequência dos acontecimentos, seguramente as primeiras linhas terám resultado desconcertantes. Como já dixem, tratava-se de umha mensagem aparecida na lista da Assembleia da Língua. O remetente era o Antônio Gil Hernández e referia-se a umha mensagem minha anunciando o acto de apresentaçom de "Botar o mar polos ollos". Eu optei polo silêncio na Assembleia da Língua, porque total para lhe dizer que o tema me parecia pouco opinável, quase melhor ficava calado. Há silêncios mais expressivos que qualquer discurso.
Temos falado sobre a questom normativa e o que isto condiciona as relaçons entre escritores de umha maneira bastante frequente e cumprida eu e mais Alicia. Também o tenho feito com certa frequência com Elvira. Som duas pessoas nas que acredito. Som duas pessoas cujo trabalho admiro. Som duas pessoas às que quero com delírio. E som duas pessoas com as que tenho as minhas discrepáncias em muitos temas, mas com as que me unem tb muitas cousas. O que nom se pode negar é que som pessoas conseqüentes. O que resulta innegável é que som duas grandes poetas. E merecem publicar, e ganhar prémios, e ter o reconhecimento do público e da crítica. Por isso eu as defendo e as apoio desde as minhas modestíssimas possibilidades. E pido respeito para elas.
"Botar o mar polos ollos" é um grande poemário. E eu sinto-me orgulhoso de estar a organizar a apresentaçom na Corunha. Eu som-vos assim. Para mim, mais importante que os aplausos e a aprovaçom dos e das demais é sentir que fago o que quero fazer. Que acredito no que fago. Eu acredito em Alicia Fernández, no que fai. Nom poido dizer o mesmo de todas as pessoas que conhecim no mundo das letras.
E tudo isto fago-o porque me dá a gana. É o mais bonito de tudo. É um exercício de liberdade. Nom sei se isso será "fazer o parvo". Eu penso que nom.
Ainda que, se calhar, os que, segundo alguns, fam o parvo, som @s companheir@s da Incomunidade. Eu penso que tampouco. Que simplesmente decidirom apostar por Alicia pola sua qualidade. Tal como já manifestarom. E outra cousa é a postura que na Incomunidade tenham sobre o conflito lingüístico na Galiza. E a percepçom que se tenha em Portugal deste tema, quando há percepçom, que às vezes nem a haverá. Já dixem antes que, como reintegracionista, preferiria que o mundo da cultura alí tivesse claro que aquí falávamos português. Claro que nem sequer aquí os que defendemos a língua estamos de acordo nisso. Assim que, tampouco lhe vamos exigir aos portugueses o que nom somos capazes de conseguir aquí.
Espero, portanto, ver-vos o dia 2.

quarta-feira, março 23, 2005

Alguns estamos a fazer o parvo...

--- Em assembleia-da-lingua "ramiro vidal alvarinho" escreveu: «..."Botar o mar polos ollos", recentemente publicado pola editoraportuguesa "Tema"...»COM.- Esse título publicado por uma editora portueusa? Alguns estamosa fazer o parvo... Não houve ninguém que tivesse a "caridade" de lheindicar que por esse caminho a nada chegará? Se tem tanto futuro, quese aperceba dele... Enfim: Impaís!!!Cumprimentos: Hdez/



Esta mensagem apareceu na lista da Assembleia da Língua ontem, em resposta ao anúncio que mandei da próxima apresentaçom na Corunha do livro da minha amiga Alicia Fernández. Há pouco que discutir, e o que se poderia discutir nom o vou discutir a propósito de Alicia. No reintegracionismo gostariamos de que Portugal tivesse claro quê língua é a que se fala aquí, mas nem sequer estamos de acordo entre a gente de aquí. A editora Tema é soberana para decidir a quem publica, logicamente. E eu desde O Tangaranho Vermelho, fago o que me apetece, como também é lógico. Nom creio que apoiar a Alicia seja fazer o parvo. E nom o vou discutir. Sei que há quem pensa que nom é acertado o que fago, que umha boa parte dos meus correligionários reintegracionistas nom fariam isto nunca...e que há quem pensa que estou a fazer o parvo. Eu, sinceramente, nom o acredito. Tenho razons para pensar o contrário.

segunda-feira, março 21, 2005

A minha relaçom de amor-ódio com o heavy metal (II)

A movida madrilena foi um episódio fugaz, do que sobreviverom alguns artistas, a outros engoliu-nos o esquecimento. Músicos militantes do heavy metal, voltarom a flote a finais dos oitenta, pessoal como Rosendo, já sem Leño, Barón Rojo, Barricada...voltavam ter certo lugar na rádio e a televisom. Los Suaves convertiam-se numha banda de massas, curiosamente sendo umha das que menos terei visto por televisom, nem sequer na televisom autonómica galega. No ano oitenta e sete punham-se a moda Europe e Bon Jovi. Aí houvo pola minha parte um divórcio temporário com o mundo do heavy metal. Nom podia aguentar tanta artificiosidade. Eu era um adolescente que procurava ser diferente. E parecia-me muito vulgar escuitar o que todo o mundo escuitava. No ano oitenta e sete no meu liceu, até os mais queques escuitavam heavy metal. Era um suplício. Entom exilei-me no punk. Foi mais tarde, cara o noventa e tal, que me reconciliei com o metal, com a entrada na cena internacional de gente como Fear Factory ou Sepultura. O industrial era umha via nova aberta à tecnología, alonjava-se bastante daqueles heavies essencialmente rockeiros. Particularmente nom gosto da estética metaleira, é algo que decidim há muito tempo. Nom me interessam os cabelos cardados, nem as calças ajustadas. Sim gosto da música, o que nom significa umha identificaçom com a “tribo urbana”. Bandas como Overkill, Sick of it all, Rorscharch...abraçarom o movimento hardcore com umha clara herdança metaleira. Mas do hardcore já nos ocuparemos noutro post...

domingo, março 20, 2005

Homenagem a Carvalho Calero

Amanhá continuarei com o meu artigo sobre heavy metal. Hoje informo-vos que o dia 23 de Março haverá na Fundaçom Artábria umha homenagem ao professor Carvalho Calero. Se morades por Ferrol ou a comarca de Trasancos, recomendo-vos que vaiades.

sábado, março 19, 2005

A minha relaçom de amor-ódio com o heavy metal (I)

...primeira entrega do meu artigo sobre heavy metal. Que aproveite e boa fim de semana.


É umha música que nasceu, em princípio, para se dirigir à mocidade operária, mas já é umha música interclassista. Nom se trata, em qualquer caso, de que “per se” nasça como umha expressom revolucionária do rock, nem muito menos; de facto eu diria que está longe disso. Nom conheço a nengumha banda-ícone do metal que se caracterizara por ter umha atitude de clara militança de esquerdas...nom digo que nom a houvesse, apenas digo que nom conheço (a ver se agora me vam sair inimigos por dizer isto) polo menos de entre as mais de massas e conhecidas internacionalmente. De facto há umha nada despreçável lista de bandas de metal que som controvertidas por justamente o contrário, é dizer; por flirtear, ainda que seja de umha maneira só estética, com o fascismo e o nazismo. Bandas como Iron Maiden, amplamente reconhecida esta como rainha do metal, sempre derom umha imagem mais bem conservadora, com a sua union jack sempre ao ombreiro, as suas louvanças ao império británico e os seus himnos belicosos. Outras bandas como KISS, Slayer ou Manowar tenhem já fama de ser de umha maneira mais explícita fascistas. Também se adoita falar das fílias racistas de Phil Anselmo, o que fora vogalista de Pantera. No caso de KISS e de Manowar, essa fama de simpatizar explícitamente com posiçons políticas da extrema direita vai unida, nom sei se contraditoriamente, com o rumor de certa atitude gay. Em qualquer caso, o discurso belicoso, de enfrentamento entre as forças do bem e o mal, o gosto pola mitologia, os valores etnicistas e militaristas tam comuns nas letras e nas mensagens gráficas das bandas metaleiras mais conhecidas, nom destilam precisamente outra cousa que nom for reaccionarismo. Bandas mais jovens, como Metallica ou Anthrax, nom vam por esses derroteiros. De facto Anthrax apoia a causa palestiniana, igual que também som conhecidos polo seu apoio explícito a Palestina os brasileiros Sepultura.

Na minha infáncia, tendo eu oito, nove e dez anos, viveu-se umha primeira época dourada do metal no estado espanhol. Leño, Barón Rojo, Barricada...ouviam-se polas ruas do ferrolano bairro de Carança constantemente. Em qualquer esquina perdida de qualquer bloco de prédios, de qualquer parque, às portas das escolas de ensino primário...podias escuitar imha parelhagem de som a todo volume com as cançons destas bandas a sonar. A primeira banda heavy espanhola que me impressionou foi Obús. O primeiro vídeo que vim deles foi...ufff...nom sei se no ano oitenta e dous ou oitenta e três, num programa da entom única televisom que podiamos ver, Televisión Española, chamado Pista Libre. Nom sei se foi um par de anos antes ou um par de anos depois, vira o vídeo de Las Vulpess “Me gusta ser una zorra”. Aqueles dous vídeos dividirom-me o coraçom. Sempre, desde a minha infáncia, estivem a nadar entre as águas do heavy metal e o punk e os discos de AC/DC, Iron Maiden, Metallica, Nuclear Assault, Pantera, Exodus, Sepultura...partilhavam prateleira com os de Ramones, Toy Dolls, La Polla Record’s, U.K. Subs ou Exploited. Acontece que, pouco depois da eclosom do metal no estado espanhol, aparecerom dous fenómenos musicais que eclipsarom em parte a, em princípio, imparável puxança com a que entrou em cena o heavy nestes pagos peninsulares; a “movida” madrilena e as demais seqüelas...Vigo, Barcelona, e outras urbes do estado que também “pré-fabricarom” a sua própria movida. Bandas como Los Pegamoides, Gabinete Caligari, Radio Futura, Siniestro Total, Nacha Pop, Los Rebeldes, Loquillo y Los Trogloditas...irromperom a meados dos oitenta deslocando em grande medida o fenómeno do metal e o rock urbano espanhol, que começava a ser de algumha maneira já umha manifestaçom bastante tomada a sério mediaticamente. Mas o PSOE dos GAL e a reconversom industrial precisava ter a mocidade sedada com fogos de artifício.

O outro braço da tenaça era o punk, e como ariete o Rock Radical Basco. Kortatu, Eskorbuto, Vómito, La Polla Record’s, MCD...desputavam já entre a mocidade dos subúrbios preferências com os Obús, Barón Rojo e companhia. O Rock Radical Basco jamais tivo apoio mediático, e, como digo, o metal ibérico ficou durante alguns anos postergado.

sexta-feira, março 18, 2005

Novo evento do Tangaranho

Amanhá postarei o prometido artigo sobre heavy metal. Hoje informo de que para o 2 de Abril, Alicia Fernández estará de novo na Corunha, esta vez para apresentar o seu poemário "Botar o mar polos ollos". Será no Centro Social A Treu! Neste acto de apresentaçom também intervirá Yolanda Castaño. O começo do acto está previsto para as 20h.

quarta-feira, março 16, 2005

Até que enfim, um post...

A ver se desta nom me trai este condenado computador...ia-vos comentar que o Domingo estivem de celebraçom familiar, celebrávamos, seica, o meu dia de anos e mais o meu santo; ainda que o santo tanto me tem, para mim que nom existe, há quem asegura que sim, mas eu jamais vim num calendário ressenhado o Sam Ramiro. Bom, tivem um presente do meu irmao; um cd dos The (International) Noise Conspiracy. Dizer que me matriculei numha academia para obter a carta de conducçom (a ver se para o verao ou o outono som um homem motorizado) e, que, aliás, tenho já a minha entrada para ver a Judas Priest e a Barón Rojo no Coliseu da Corunha.
Proximamente postarei algo acerca do heavy metal, há tempo que quero escrever algumhas reflexions acerca desta música.

segunda-feira, março 14, 2005

Notícias de mim

Como já dixem, cumprim 32 anos o dia 12. O meu irmao presenteou-me um disco (maravilhoso) de umha banda muito interessante que se chama The (International) Noise Conspiracy. Dentro de um mês, concerto na Corunha de Judas Priest e Barón Rojo. Já tenho a entrada. De facto, hoje fum à Corunha expressamente para isso, aliás de para me matricular na auto-escola. A ver se para o verao, ou a mais tardar para o próximo outono já som um homem motorizado.

sábado, março 12, 2005

Dia da Classe Obreira Galega

O dia 10 estivem em Ferrol, numha conmemoraçom que tem especial significado para mim. No 10 de Março de 1972 naquela cidade, a polícia franquista ametralhava umha marcha de operários do sector naval. Morriam Amador e Daniel, dous jovens operários filiados ao sindicato Comisiones Obreras. O meu pai estava alí. Conta a minha nai que na altura da Igreja do Pilar começarom os disparos e que os operários grevistas se refugiaram na sede da associaçom Toxos e Flores. Que foram horas de autêntica angústia, na incerteza pola sorte do meu pai. É um episódio das luitas operárias em Ferrol que fai parte da minha pré-história pessoal, já que um ano e dous messes depois nascia eu(Com efeito, hoje é o meu dia de anos).
O responsável político da morte de Amador e Daniel está hoje na Presidência da Junta da Galiza. Eu nom esqueço.

terça-feira, março 08, 2005

No Dia da Mulher Trabalhadora, versos de Elvira Riveiro

No Dia da Mulher Trabalhadora, uns versos em homenagem a umha mulher trabalhadora em concreto, Elvira Riveiro, que como muitas mulheres da classe trabalhadora na Galiza, tivo que emigrar. Estes versos de Elvira em homenagem a Elvira, também quero que sirvam como sincero abraço a todas as mulheres trabalhadoras do mundo. Quase todas som nais, aliás de operárias. Peças imprescindíveis de umha sociedade que as oculta. Que as posterga. Que as agride. Que as despreça. A todas elas. Nomeadamente às do Terceiro Mundo. Também às lesbianas. Também às prostitutas. A todas aquelas que nem sabem que hoje foi 8 de Março.

POEMA:

I
Metástase ramificada
en cada órgano
...
Non hai saída posíbel,
nin cura,
ningún remedio,
pero debo visitar de vez en cando
o meu oncólogo:
a puta realidade.


II
Recuperar a palabra magoada,
a que foi dita polas bocas hipertróficas,
a cuspida,
a vomitada sen decoro en calquera púlpito
ou non importa en que ridícula asemblea.
Pórlle apósitos nas feridas,
sostela,
para que non caia.


III
A carne derretida –a lume lento-
enriba do papel
(como único adobío apenas unhas febras
de beleza, outras tantas
de violencia).

IV
— que desexas de min? dixo ela
— ondulando sobre ela, gritei — lascivia!
— que desexas de mim, preguntei.
— linguaxe, dixo ela, linguaxe.*
Unha amálgama imperfecta
de carne e xiria incomprensíbel
para os cordos.
— linguaxe, dixo ela, linguaxe.

*(de “Babel” de Patti Smith)


V
Soltar as palabras feas
que non debiamos dicir cando meniñas
ceibalas como as tería ocultas o pai, o sacerdote,
perversas,
sediciosas,
EN MAIÚSCULAS.


VI
Prescindo da moderación
que arrastro encadeada á gorxa,
obvio por un instante o silencio,
fago estiramentos lingüísticos e subcutáneos
e acaban por saír palabras como arrotos
que se lanzan kamikazes
a calquera xugular que estea á escoita.


VII
Só unha mostra infinitesimal
do modo ilimitado
en que estou completamente escrita por dentro
(traio no corpo un horror vacui
de metáforas)


VIII
Eu expulso o meu tumor en tinta negra.
Agora es ti quen ten un carcinoma poético
no cerebro:
estás perdido,
ningún xeito de extirpalo,
a non ser que esteas disposto a sangrar
un menstruo continuo
de tinta negra,
o ritual funesto
de aprisionar fantasmas no papel.*

*(dun poema de Lenise Regina)

sábado, março 05, 2005

Valso de paredes brancas

Um poema de Mário Herrero. Dedicado aos amigos e amigas que continuamos a fazer polo blogomundo. Saudaçons a Alba e a Xávi.


Valso de paredes brancas

deportado no paraíso,
a navegar sobre algumas páginas
de um livro a meio fazer:
eles e outros, ela e uma adaga
aqueles a morrer, apoteose dos homens
justos e os cadáveres a bailarem
um valso de paredes brancas,
paredes brancas e uma espada rota
prosseguindo o inferno:
näo queres bailar neste cárcere de ouro,
paredes brancas perseguindo a salvaçäo
do carrasco, paredes brancas e a proibiçäo
de morrer como um menino que caminha
seguro, e a figura odiosa detrás, como
uma parede branca, como uma página
de um livro a meio fazer, como
uma parede branca, como uma parede branca,
como a mulher que pudem ser

quarta-feira, março 02, 2005

Porquê nom houvo um Rock Radical Galego?

A continuaçom, um artigo que publiquei há algumhas semanas em Radicalismo.


Porquê nom houvo um “Rock Radical Galego”?

A mocidade revolucionária basca, e também a catalana, desfrutam desde há geraçons de umha ampla cena de bandas comprometidas com a causa da libertaçom nacional, que cantam na língua do país e que o fam desde as mais variadas linguagens musicais...heavy metal, punk, hardcore, hip-hop, rock, ska, reagge...cantado em català e em euskera e sem complexos. Há inclusso um mercado auto-suficiente, estas bandas vendem discos e há um circuíto que lhes asegura o poder tocar. Dar um concerto em Euskal Herria ou nos Països Catalans, desde logo, nom é a odiseia que é aquí, e eu mesmo lembro que já há anos o baterista de Skacha me comentava que a esta banda viguesa lhe resultava muito mais fácil fazer um concerto em Catalunya que na Galiza.

O caso basco e o caso catalám tenhem pontos em comum e tenhem também as suas diferenças, em todo caso aquilo que tenhem em comum é justo o que marca a diferença com o caso galego.

Em Euskal Herria, nos anos oitenta, irromperom bandas punk como La Polla, Eskorbuto, Vómito, Kortatu, MCD...bandas que cantavam em espanhol maioritariamente, às que se forom somando outras que cantavam em euskera. Primeiro foi Kortatu, mais tarde bandas como Jotakie, Hertzainak, Kontuz-Hi!, Delirium Tremens...tinham em comum a proximidade com a atitude punk, e os referentes musicais; nom havia conhecimentos técnicos como para ser originais e o que se oferecia eram letras que falavam de temas com os que se podia identificar a juventude basca; a repressom policial, a abafante presença da igreja católica e a sua moral repressiva, a exploraçom laboral, a imposiçom do serviço militar...com músicas fuziladas dos Ramones, The Clash, Sex Pistols, Specials, Bob Marley...

O relevo geracional nas comissons de festas dos bairros e concelhos rurais do país, propiciou que todas estas bandas começassem a fazer directos e a consolidar um público. Isto, mais o eco que atoparom no jornal Egin, a travês do suplemento musical “Bat, hi, hiru, burau!” onde apareceu por primeira vez a referência a esta geraçom de bandas baixo o termo “Rock Radical Basco”, termo que nom gostava em princípio a algumhas bandas, e o parachuvas da discográfica Ohiuka, que foi a que em princípio apostaria por estas bandas. Claro que todos estes factores som conseqüência de umha operaçom política por parte da esquerda abertzale, que no seu momento decide potenciar toda essa efervescência cultural agromada à calor dos ecos do punk, operaçom que se traduziria de umha maneira muito rápida num grande capital político. A causa basca, em poucos anos, cobraria fora de Euskal Herria umha simpatia entre a juventude de outras latitudes do estado espanhol e de América Latina, que nom teria se nom tivesse tais difusores fora das fronteiras da naçom basca. O contexto histórico, também, era propício. Os oitenta forom anos de crise industrial, a heroína fazia estragos na populaçom jovem basca e a repressom policial e o terrorismo de estado se cebavam no povo basco, havia centos de presos e presas
polític@s basc@s nos cárceres espanhois e franceses...etc. Com o tempo, as geraçons herdeiras do “Rock Radical Basco” iriam fazendo-se mais diversas em referências musicais, mais profissionais, com mais qualidade técnica, e tornariam-se maioria as bandas que cantam em euskera.

O caso galego leva já vinte anos (como mínimo) dando altos e baixos, sem acabar de arrancar. Lembro que o primeiro grupo com certo sucesso comercial que cantou em galego forom Os Resentidos. Em 1982 o tema “Galicia Caníval”, incluido no LP do mesmo título, sonava na rádio fórmula espanhola e nas discotecas com insistência. LP’s posteriores como “Fracaso Tropical” ou “Jei” também obtiveram certo reconhecimento; “Fracaso Tropical” obtivo um éxito de vendas similar ao de “Galicia Caníval” e “Jei” tivo bastante boas críticas na imprensa especializada, ainda que já nom tivo o mesmo nível de vendas que os anteditos. Poucos anos antes da disoluçom de Os Resentidos, surgiu outro projecto chamado Os Diplomáticos de Monte Alto. Havia um elemento comum com Os Resentidos, que era a língua. Havia também as suas diferenças. Se Os Resentidos tinham umha especial querência polo rap e as músicas latinas, e lhe acrescentavam a isto dous elementos tam folkies como a gaita e o acordeom, no caso dos Diplomáticos os referentes musicais variavam e apontavam a Kortatu, The Clash e Mano Negra, ainda que se conservava esse espírito reciclador da música popular galega, com estrofes fuziladas de cançons populares e com a presença do acordeom.. Polo meio, surge o primeiro intento de criar umha cena de rock em galego; Antón Reixa intenta criar o selo “Fundación Resentidos”, que daria acobilho a bandas que começavam a sonar naquele momento como Rastreros, Yellow Pixoliñas e Os Verjalhudos. Os Verjalhudos som umha banda punk que vai na onda dos Pogues e que se fai famosa a nível da Galiza graças a um programa da TVG conduzido por Antón Reixa, chamado Sitio Distinto. Alí também saltam ao panorama nacional Os Diplomáticos. A cousa nom se materializa, mas Os Diplomáticos seguem no empenho de juntar as bandas que trabalham na Galiza e em galego, e um dia do ano 95 conseguem reunir em Lourençá a um bom número de bandas que se expressam na nossa língua. Algumhas delas acabariam participando num compilatório de Edicións do Cumio, como é o caso de O Caimán do Rio Tea, Ruin Bois, Skornabois, Túzaros ou Impresentables. Outras bandas, como Yellow Pixoliñas ou Heredeiros da Crus, assistirom a aquela reuniom de Lourençá, mas decidirom seguir um caminho diferente. Aquele fito da ediçom do compilatório, mais a primeira ediçom do “Castañazo Rock” de Chantada, que serviu de apresentaçom do disco, deveria ter sido um ponto de partida para criar umha cena de bandas em galego, mas mais umha vez a cousa nom foi para adiante. Nom havia umha conceiçom mínimamente homegénea do que se queria e o “movimento” disgregou-se. Poderiamos seguir enumerando outros intentos de unir aos músicos que trabalham em galego, como o caso de AMELGA, mas perderiamo-nos. Desviariamo-nos do tema que pretendemos tratar.

Todos estes intentos de juntar às bandas que cantam em galego jamais lograrom tal objectivo. Poderiamos fazer a salvidade de AMELGA, porque também AMELGA nom era um projecto destinado a juntar as bandas de rock que cantassem em galego, a cousa era abranger a tod@s @s
músic@s galeg@s que trabalhassem em galego, cousa que ia conseguindo, até a sua desapariçom por, digamos, colapso orgánico.

Mas, apeadas do bravú, ficarom bandas que, ou nom forom convidadas a fazer parte do projecto, ou de entrada refugarom participar da experiência. O manifesto bravú dezia cousas sensatas, mas ficava em geralidades que nom aprofundavam na realidade social do país. A fórmula nom podia funcionar, porque nom tinha em conta os cámbios operados na sociedade galega. A mocidade galega dos anos noventa era urbana, inclusso a mocidade galega que vivia afastada dos grandes núcleos de populaçom tinha hábitos urbanos. Plantejar o rock bravú como umha alternativa “rural” à cultura urbana foi um erro. Porque quando há umha série de bandas que oferecem como elemento novidoso a língua e pretendem abrir-se passo no mercado com a língua por bandeira, há que jogar a carta do idioma com inteligência. Nada lhe pode importar a um jovem proletário ou umha jovem proletária residente em Carança, na Agra ou em Coia que “as patacas de cedo sairom boas”. Porquê no contexto espanhol triunfam bandas do chamado “pop español”, ou bandas de rock, que cantam em espanhol, mas que nom oferecem umha especial qualidade técnica? Pois porque a gente percebe as letras e sente-se identificada com elas. Essa é a chave. Cantar-lhe a um mundo inexistente, nom conduze a nada.

Como ia dizendo, houvo bandas que cantarom em galego e que permecerom à margem de um rock bravú que renunciou a liderar umha revoluçom no rock nacional. Por discrepáncias claras com o projecto, ou simplesmente porque se moviam noutras dinámicas. Eu quixera ter um especial recordo para duas bandas compostelanas; Fame Neghra e Dirty Barriguitas. Começarom a sonar nos albores do movimento hardcore na Galiza, e numha época em que agromavam os Centros Sociais Ocupados no estado espanhol como umha nova forma de catalisar o movimento “alternativo”. Nom todo o mundo, numha cena hardcore dominada polo movimento libertário, compreendia isso de cantar em galego. Mas eles tocarom por Galiza adiante, e mesmo fora da Galiza, cantando em galego. De pessoal rebotado destes dous grupos, nascerom Samessugas, que hoje seguem a dar exemplo, porque se movem no mundo da cena garage-punk, na que nom podemos dizer que o nacionalismo tenha umha grande presença, se é que tem algumha, partilhando cenário com bandas que cantam em inglês e que mesmo nom vem demasiado bem cantar em espanhol.Outra banda que merece ser mencionada na história do rock feito em galego é
Nen@s da Revolta, que se fixerom populares no ámbito independentista polos seus dous CD’s com o selo Sons de Luita, mas que muito antes de se dedicar a isto do reagge e o rock mestiço faziam punk. O seu principal referente eram os Stupid Baboons. Vim-nos por primeira vez no edifício de usos múltiples de Acea da Má em Culheredo, há um lote de anos. Nem lembro com quem partilhavam cenário daquela vez. Como detalhe, dizer que fixerom mençom aos presos e presas independentistas galeg@s, umha realidade à que a maioria do público que frequentava concertos do circuito hardcore-punk da Galiza lhe dava maioritariamente as costas. Lembro que mesmo, quando fixeram aquela mençom, houvo algum intento de apupo desde o público. Hoje o projecto está disolto e o ex -baterista e o ex -baixista tocam na banda de música popular galego-portuguesa Contra-dança. Outra banda que passou à história por ter um gesto nom muito comum forom os Raiados. Numha entrevista radiofónica partirom-lhe o cráneo a um locutor por nom lhes falar em galego. Um dos integrantes desta banda seria fundador de outro projecto musical chamado Nabarraka. Nos anos noventa também aparecerom as bandas ferrolanas Consumatum Est e Eutanásia Activa. Mas há que dizer que as bandas que se expressavam exclussivamente em galego eram minoria. O que sim é certo é que na cena punk havia menos complexo por cantar em galego do que noutras cenas, muito a pesar da “pressom” para evitar gestos que cheirassem a nacionalismo. Outras bandas que cantarom maioritariamente em espanhol, mas que tinham temas em galego no seu repertório forom Desvirgheitors, Xentalla ou Meigallo. Há inclusso o caso de umha conversom do espanhol ao galego; Skacha hoje por hoje é a melhor banda punk galega e o seu repertório mais actual é em galego.

Provavelmente havia material, nem melhor nem pior, para criar umha cena “alternativa” galega ampla e plural. O que faltou foi a vontade política de fazê-lo. Quem o podia fazer preferiu nom arriscar e agarrou outros atalhos polos que esnafrar-se era quase inevitável. Projecto Global é um selo que pretende englobar a todas aquelas bandas com letras em galego e ideologia independentista. Aí tenhem cabimento umha série de bandas, mas na minha opiniom o que falta na Galiza é outra cousa. Falta umha discográfica que trabalhe com critérios nom partidaristas e que lhe dea saida ao material em galego. Independentemente de se é político ou nom o é.Ou isso, ou abrimos o critério ao factor “língua”. Ao melhor, fai falta um “Ohiuka” galego. Eu nom me inclino por nengumha das duas vias. A verdade é que o que nom creio é que haja já possibilidade algumha de que saiam adiante produtos pré-fabricados como o bravú. Aliás duvido que qualquer projecto político esteja em condiçons de tutelar, nesta altura, algo similar ao gestado em E.H. nos anos oitenta.