terça-feira, agosto 31, 2004

Versos contra os clérigos

Nestes tempos de clérigos e fundamentalismos sinistros, de deuses crueis, eu colo estes versos. Contra a herdança infecta das religions.


O CAMINHO DA GLÓRIA

Na Casa de Deus, o exército sinistro
De automatas
Os regimentos da brutalidade obscura
Com os seus ministros à cabeça
Fervem o ódio milenário dos caridosos

Muitas noites de frio e medo, muitos dias de fame, muitas guerras a arrassar naçons inteiras, muito amor de Deus e muita rapina

A castraçom de Europa, a postraçom do ser humano.

A perda da soberania das mentes. O salmo delirante da vossa virtude putrefacta. A morte de um judeu convertida numha orgia desenfrenada e macabra.

Quem liquidara a vossa abjecta tradiçom.

A cristiandade é um cântico grotesco numha noite da humanidade. Um delírium tremens.

Um abismo de sangue e santidade perversa.


segunda-feira, agosto 30, 2004

Nem Autonomia, nem Constituiçom

A seguir colo um texto de NÓS-UP a se pronunciar a respeito dos órdagos lançados desde as principais forças políticas do país sobre a suposta necessidade de reformar a Constituiçom espanhola e de pactuar um novo Estatuto de Autonomia para a Galiza:
Nem Autonomia, nem Constituiçom: Autodeterminaçom
Decálogo a respeito do debate autonómico

1- Após mais de um quartel de século da aprovaçom da Constituiçom espanhola, continuadora do franquismo e da qual emana a actual Espanha autonómica, as luitas nacionais impulsionadas polas diversos povos oprimidos polo Estado espanhol, nom só nom desaparecêrom, como mantenhem vigor e vitalidade.
2- A negativa a reconhecer o direito de autodeterminaçom da Galiza, Catalunha, Euskal Herria e de todos aqueles povos que assim o desejarem, tem sido e continua sendo um dos fios condutores das políticas das diversas forças que ocupárom a Moncloa. UCD, PSOE e PP aplicárom com tácticas diversas a mesma política centralista e antidemocrática.
3- O capitalismo espanhol acha-se numha situaçom de fraqueza, e consciente do irrecuperável golpe que para a burguesia significaria a independência dos povos oprimidos, interessada em manter a toda a custa o mercado denominado Espanha, optou nos últimos oito anos por aplicar um plano de choque para aniquilar as esquerdas independentistas. A involuçom da era Aznar com a aprovaçom de leis de excepçom que provocárom a ilegalizaçom de forças políticas e fechamento de meios de comunicaçom foi acompanhada por umha reforma laboral permanente, por contínuos ataques aos direitos da classe trabalhadora, por recortes das liberdades, no quadro de umha estratégica de carácter fascista. A mobilizaçom social da classe obreira, das mulheres, da juventude, mas também as reivindicaçons nacionais, fôrom determinantes para o seu fracasso.
4- Porém, a chegada do PSOE ao governo de Madrid nom tem suposto, nem vai supor, mudanças substanciais à hora de modificar as políticas neoliberais e centralistas aplicadas nas últimas três décadas de democracia burguesa espanhola. Zapatero tam só vai aplicar, com outro estilo e outro talante, idênticas “soluçons”.
5- O capitalismo espanhol necessita com urgência assegurar a estabilidade do regime. Por este motivo, após terem fracassado as políticas de confronto directo do PP, apoia o pacto com as burguesias periféricas mediante um novo acordo autonómico que actualize o de 1979-81, baseado numha nova descentralizaçom administrativa emanada da previsível reforma constitucional que satisfaga as demandas das direitas catalá e basca, mas também as das elites autonómicas.
6- Para o sucesso deste novo acordo, deve desactivar algumhas das reivindicaçons do PNB, plasmadas no denominado Plano Ibarretxe, e realizar as mudanças oportunas, as reformas necessárias da arquitectura institucional do Estado que, sem questionar a sua essência, podam neutralizar as aspiraçons pseudoindependentistas de forças como ERC ou EA, e incorporar ao novo consenso as forças regionalistas de direita e diversos reformismos autonomistas. A nova Espanha plural que Zapatero incorpora da proposta de Maragall é a palavra de ordem do novo regeneracionismo autonómico do espanholismo consistente em mudar algumhas cousas para que todo siga na mesma.
7- As burguesias nacionalistas desejam apenas umha maior descentralizaçom. Nom querem exercer a autodeterminaçom. Temem as conseqüências do reconhecimento deste direito na hora de manter os seus privilégios de classe. O exercício da autodeterminaçom tam só interessa objectivamente às classes trabalhadoras das naçons orimidas, mas também às do Estado opressor.
8- As forças políticas da oposiçom institucional ao governo Fraga, carentes de umha alternativa diferenciada e tangível à extrema-direita regionalista, à medida que se aproximam as eleiçons autonómicas, buscam desesperadamente títulos de imprensa para atingir protagonismo. Aqui devemos situar as propostas do BNG e do PSOE de modificar o Estatuto de Autonomia da Comunidade Autónoma Galega. PSOE e BNG nom questionam a situaçom de dependência da Galiza. Nom reclamam poder exercer a autodeterminaçom nacional. A popostas de Tourinho e Quintana nom som propostas soberanistas. Unicamente procuram praticar tunning autonómico. A Espanha plural é umha nítida aposta por negar a liberdade nacional da Galiza, Catalunha e Euskal Herria. A Espanha plurinacional é umha acomplexada e inconfessa defesa do estatus quo dum BNG que leva anos capitulando e buscando a melhor forma de encaixar no regime da monarquia borbónica.
9- Umha parte fundamental dos problemas que padece a classe trabalhadora galega só se podem resolver exercitando a autodeterminaçom. Sem que a Galiza se dote de um Estado próprio, nom podemos construir umha naçom ao serviço das classes trabalhadoras e sectores populares. Nas naçons sem Estado, a autodeterminaçom é o instrumento para a transformaçom social. @s trabalhadoras e trabalhadores galeg@s nom podemos deixar-nos seduzir por frases sonoras e ocas promessas. Nos vindouros meses, vamos assistir novamente, vamos ver-nos bombardeados por umha bateria de enganos, jogos de artifício, propostas virtuais que tam só procuram os nossos votos para que todo siga igual. A unidade de Espanha é a principal arma com que conta a oligarquia para perpetuar e incrementar a exploraçom e dominaçom a que nos vemos submetidos como homens e mulheres do mundo do Trabalho. Por muita renda de camarinhas que nos queiram vender o BNG e o PSOE a nossa liberdade e emancipaçom nacional e social de género nom é possível no actual quadro jurídico-político. A Galiza nom pode ser livre na Espanha. A nossa luita nom se pode cingir ao quadro estatal. E no espaço europeu onde temos que luitar polo reconhecimento dos direitos do Povo Trabalhador Galego.
10- A esquerda independentista galega tem a firme determinaçom de seguir facilitando a construçom de um amplo espaço soberanista galego, -suprapartidário, plural e heterogéneo-, em que podamos coincidir quem consideramos imprescindível, vital e urgente, que a autodeterminaçom nacional seja um dos epicentros da política galega.

Permanente Nacional de NÓS-Unidade Popular
Galiza, 28 de Agosto de 2004

domingo, agosto 29, 2004

Carne triturada - Poema de Ramiro Vidal Alvarinho



Podre mae prostituta,
Com a lírica decadente dos rostos da misséria,
Com a épica brutal das tuas gruas e os teus motores,
Com a pantofágia das tuas costras de cimento,

Com a dureza dos teus braços de asfalto; mae minha, sentinela dos meus anos…

…o teu ventre de chúvia é a minha casa, o meu caminho, a minha cançom, o meu metalúrgico riff banhado em versos slam…

…esta cidade tam puta e misserenta é esse poema violento tatuado na minha olhada,

um poema de luita operária, de violência racial, de desarraigo

de ruído de comboios agonizantes e enferrujados

de barcos esquecidos

de pessoas grises, sem esperança

de travesias dolorosas até um naufrágio seguro no teu estómago.

sábado, agosto 28, 2004

Artigo do Portal Galego da Língua

Achei interessante este artigo, sobretudo para aquelas e aqueles de vós que tenhades especial interesse polos temas relativos às línguas.



Uma língua austríaca?
Reforma ortográfica será obrigatória nas escolas a partir de agosto de 2005
A nova reforma ortográfica do alemão, adoptada em 1998 e actualmente em plena fase de implementação, provoca disensões que ameaçam mesmo com quebrar a unidade da língua. Por um lado, as autoridades políticas competentes (os Länder, na Alemanha) aparecem em boa medida como partidárias da aplicação das novas normas. Por outro lado, alguns editores, escritores, e até políticos na procura de um certo "populismo ortográfico", mostrarom-se abertamente hostis às mudanças. E é que estamos a falar de uma sociedade altamente desenvolvida, onde temas como a reforma ortográfica não só fão parte do cotidiano como ainda levantam fortes paixões. Na cidade de Colónia, por exemplo, vários vizinhos chegarom a chamar a polícia porque um cabeleireiro tinha escrito Haarflege (cuidado do cabelo) em vez da forma correcta Haarpflege.[+...] Especialmente significativo, pola sua transcendência, é o facto de algumas publicações da Alemanha, como a revista Der Spiegel, o jornal Der Süddeutsche Zeitung ou o tablóide Bild, terem anunciado o regresso às velhas normas. Até agora, a reforma parecia ter triunfado no mundo da imprensa, factor considerado chave para garantir a sua assunção social, mas as últimas viradas de rumo voltarom a tornar maioritária a antiga ortografia, facto que provocou uma reunião urgente das autoridades implicadas na sua implementação.
Em países como a Áustria ou a Suíça o debate também é vivido com paixão e mesmo aparece acompanhado de certas tendências disgregadoras. Na Suíça germanófona o apoio à reforma é maioritário, mesmo existindo alguns opositores, e reclama-se polo caos que suporia o regresso à antiga ortografia num país que mesmo já tem modificado todos os seus materiais pedagógicos para adaptá-los às novas normas. Tendo em conta que na Suíça o alemão padrão é quase que exclusivamente uma língua escrita, cedendo o seu lugar na fala para diversos dialectos bastante afastados do Hochdeutsch, uma situação de incerteza no relativo à escrita do padrão poderia favorecer as tendências partidárias de quebrar a forte situação de dependência diglóssica que vive o país, procedendo a codificar uma escrita propriamente suíça. Nesse caso, tendo em conta as singularidades do alemão da Suíça, teria-se avançado quase definitivamente para a consolidação de uma língua suíça independente, tal e como aconteceu historicamente com o neerlandês.
Na Áustria, porém, a situação é diferente. A maior parte do país insere-se no âmbito de distribuição tradicional do dialecto autro-bávaro, menos singular dentro do contexto dos dialectos alemães e, portanto, muito mais próximo do padrão da escrita. Essa situação fijo com que as repercussões provocadas polo debate em torno à implementação do novo acordo ortográfico tenham oscilado, no meio da confusão, entre a criação de uma língua austríaca independente e posições mais moderadas, ligadas ao que seria uma padronização endógena convergente. Em qualquer caso, parece óbvio que o desenvolvimento ou consolidação de uma entidade nacional austríaca independente da Alemanha, uma vez ultrapassado o «Anschluss» dos tempos do totalitarismo nacional-socialista, não exige da assunção de uma língua diferente, mas tampouco é compatível com um submetimento gratuito às disposições e decisões geradas na Alemanha.

sexta-feira, agosto 27, 2004

O desencontro d@s brasileir@s com Galiza

Hoje um poema meu tinha um comentário de Nora Borges. O motivo, nom louvar ou criticar o meu poema, mas responder um outro comentário que eu lhe deixara a respeito de umha viagem dela pola Península Ibérica, no que visitou Tui, Valença e Málaga.

A verdade é que eu, quando escuito falar ou leio algumha cousa sobre a Galiza que me parece que distorsiona o que verdadeiramente somos, nom sei conter-me, e nom estou muito seguro se o tom utilizado no meu comentário foi o ajeitado...aínda que desde logo a minha intençom nom foi a de atacar pessoalmente a esta mulher cujo blog visitei ao ver a sua ligaçom na página da Loba, outra visitante ocasional do Tangaranho que de quando em vez nos honra deixando as suas críticas a reflexions minhas ou a textos de diferentes autores galegos, que ela normalmente desconhece e que di descobrir aquí. A minha intençom nom foi atacar a esta mulher do Brasil, ainda que desde logo nom puidem ocultar o meu sentimento de moléstia quando vim comentários a respeito da Galiza, fazendo identificaçons erróneas entre Galiza e referentes e manifestaçons culturais que nada tenhem a ver com a Galiza, citando topónimos na sua versom deturpada-espanholizada, etc. Mas também fiquei molesto polo facto de que ela relatava o dia em que atravesou o Minho e obviava o continuum cultural, paisagístico, etc. evidente entre Galiza e o Norte de Portugal. Simplesmente ela atravesou umha ponte, e cambiou de país.

Ao dia seguinte, ela deixou-me um comentário no post do meu poema “A Soidade”, que abonda que leades para compreender o porquê daquela obliteraçom de umha evidência que reconhecem
tod@s @s galeg@s conscienciad@s na defesa da terra e a língua, independentemente de se somos reintegracionistas ou nom; a clara irmandade cultural entre o nosso país e Portugal. Está claro, há pessoas que apenas podem concivir a língua em chave de estado. Galiza é Espanha, por tanto... Eu compreendo que a percepçom que um pode ter de qualquer país vai estar sempre mediatizada polos contactos que tenhas nele. Nom vas ver igual um país nem vas ver igual determinadas realidades desse país se por exemplo o teu contacto lá pertence a umha minoria étnica oprimida, ou se pertence a umha maioria, ou se tem tal ou qual ideologia política ou religiom, ou se fala umha língua minorizada ou mesmo perseguida, ou se fala umha língua que aliás é oficial no estado do que for súbdit@...tudo isso vai influir e mais se nom conheces para nada esse país. Aliás, temos um problema acrescentado quando se trata de que a gente de Latino-América compreenda as luitas de resistência nacional na Europa. A tradiçom jacobina herdada de Espanha e Portugal, empece-lhes para entender cousas como a luita do povo basco, ou do povo bretom, ou corso, ou catalám...mas muito além disso, menos ainda podem perceber que num estado haja várias naçons, ou várias línguas. Nom trates de lhes exprimir que na Bélgica se falam três línguas, duas delas oficiais, que na Suíça há quatro línguas oficiais ou que na Lituánia se falam até oito línguas. Nem de troça. E aliás, ofende-lhes que se lhes diga, cousa que nom entendo. E o caso dos brasileiros com Galiza e a língua galega...é especial.

Brasileiros a morar na comarca da Corunha, há uns quantos (nom apenas os jogadores do Deportivo...) e eu às vezes vou os Sábados à noite a um dos seus quarteis gerais: o Bamba Café, sediado na Praça Millán Astray. Lá eu conheço ao dono do bar, o Emílio, que é nado no Brasil e filho de um galego de Salceda de Caselas. Lá vai muita malta brasileira bailar e escuitar samba e beber caipirinha. E nom só, porque também vai gente africana; de Cabo Verde e Angola. De facto, um camareiro é angolano. Há mais africanos dos que parece porque, segundo me tenhem exprimido, esta gente tem muito auto-ódio e fam-se passar por brasileiros para evitarem ser objecto de descriminaçons por parte da populaçom local. Algumha lógica tem, porque o certo é que a simpatia –relativa e um bocado hipócrita, diria eu – que cá há polo Brasil, nom a há pola África, lusófona ou nom.

O Emilio é dos poucos que me fala português. A outra gente, na sua maioria, se detecta que nom és brasileiro, nom quer falar-te português, nem lhes parece bem, ainda que o tolerem, que tu o fales. Emílio reconhece que o galego e o português som umha mesma língua, apesar das diferenças que marcarom diferentes circunstáncias históricas. Este rapaz foi militante do PT, e é umha pessoa de esquerdas. Isso sim, temos discutido muito sobre nacionalismo galego; ele esse nacionalismo nom o partilha. Nem lhe parece lá demasiado bem que o PT mande umha delegaçom à manifestaçom do 25 de Julho do BNG. Porque até há pouco assim era, nom sei como ficaria a cousa trás o Foro de Porto Alegre, no que este partido brasileiro (ao que pertence o actual Presidente do Brasil) estreitou laços com o PSOE (partido que governa actualmente o estado espanhol ) Temos discutido horas sobre o nacionalismo galego, as suas reivindicaçons, etc. Deve ser a única pessoa na Galiza que opina que o galego é portugués, mas que a Galiza é Espanha. O resto do pessoal tudo isso o olha com desconfiança, o qual contrasta com a boa fé, e nom nego que certa ingenuidade, com a que a gente nacionalista galega se achega a tudo o brasileiro. Um vai alí com talante de amigo, e nom sempre é captada a boa intençom. Eu suponho que lhes causa certa contradicçom o facto de estar tramitando um permiso de residência “na Espanha” e ter que comungar emocionalmente com quem nega a Espanha, a sua legitimidade, a sua autoridade. Suponho que é isso. Unido a que, com efeito, salta à vista com apenas sair à rua, que em muitos ámbitos domina o espanhol, por tanto é o espanhol a língua que tem a chave da promoçom social no mundo no que se pretendem integrar.

Algo muito parecido aconteceria com Gilberto Gil e Carlinhos Brown quando actuarom na Galiza. Quem pagava? Espanha. Instituçons espanholas que se encarregarom de deixar claro a estes artistas que estava fora de lugar dar oxigénio ao nacionalismo galego. De jeito que quando Carlinhos Brown estivo em Oleiros estivo cá para tocar “na Espanha” .

Eu gostava de que @s irmaos e irmás
brasileir@s deixaram de ver como um facto inquietante o facto de nos reivindicar galeg@s e nom espanhois e espanholas. Que tivessem em conta que cá nasceu o idioma que eles e elas falam. Que tivessem em conta que esse idioma que o povo brasileiro fala é considerado de inferior por Espanha e que a nossa gente é claramente descriminada, no plano social, no plano laboral, no plano cultural. E que para quem defendemos o galego – português é vital a compreensom por parte do povo brasileiro da legitimidade dessa reivindicaçom.

No que di respeito a artistas brasileiros, deveriam compreender que para a nossa luita é fulcral o apoio de umha potência cultural como o Brasil...

Sobre este tema continuarei a falar em dias próximos, porque o acho interessante.

quinta-feira, agosto 26, 2004

A Soidade - Poema de Ramiro Vidal Alvarinho

A SOIDADE

A soidade é essa travesia constante
Que envelena os teus dias
É essa agonia surda
Essa prisom

Essa morte em vida que te invade
Esse fel ressesso

É umha derrota antiga e amarga
Fiel e dolorosa

A soidade é um cancro na esperança.

quarta-feira, agosto 25, 2004

Nocturno de Nova Iorque - Poema de Ernesto Guerra da Cal

Pelo frio
Do gume frio
Da noite
Caminho duro do abrente
Entre os tremores grisalhos da madrugada
Pelas sentinas mornas
Escoa
Lento
Espesso
Manso
E choro denso
E choro mesto
O pranto imenso
Dos olhos
Da
Cidade

Olhos
Baços
Escuros
Olhos
De
Noite insone
De
Morte em vela
Das
Raças mergulhadas
No duro pesadelo de si mesmas

Chora
Israel
Soturno e oprimido
Nos sete dedos magros do Pecado

Encadeado
Na alheia geometría
Cristä
Das
Sinagogas
Chora
Pela mäo do gentil na morte da galinha
Chora
O fantasma da sua barba perdida
Buscada
Inutilmente
Entre as vogais da Torah
Incógnitas
Ausentes

E
Soluça convulso
Ao decobrir
Que as folhas do Talmud
Se lhe tornaram em papel moeda

Chora
Na espera atribulada dos rabinos
De
Negros balandraus
Pelos baixos terraços
De
Brooklyn e do Bronx
A
Nutrir a esperança
Impossível no Hudson
Do sacro Éxodo enxuto
Do
Mar Roxo

E
O preto
Chora
Atávico
A curva da serpente
E o ronsel da piroga
A carantonha eterna do fetiche
E
As quiméricas selvas evadidas
Que fogem em cascatas
De
Ervas e crocodilos
Pelas caixas sem fim dos ascensores

E
Geme
Negramente
Asfixiado
Pelas mäos brancas
Dos anjinhos loiros
Do Céu presbiteriano
Que
Com cruel loar azul-gelado
Fazem-no comungar com dólares de prata
Chora
Os seus sonhos presos
No espelho cóncavo das cuspideiras
E
O tambor congo borrifado em sangue
Nos assentos traseiros dos expressos

E
O chinês
Escorre báguas brandas
Oblíquas
De espuma e sabäo
E
Acarinha escondido
Entre signos e sedas relaídos
O dragäo diminuto
Que
Com
Arroz e amor
Criou na cave da sua lavandaria
Mentres
Sonha marfins e porcelanas
Na camisa engomada dos banqueiros
E
Nas nódoas dos lenços milionários
Procura
Desolado
O
Tao
Perdido

..........................................................
..........................................................

pelas janelas dos arranha-céus
pelos telhados
e
pelos pára- raios
surge o choro calado
que
endurece

o
choro
ilimitado
inesgotável
da
vigilia
das
raças
submersas
da
Cidade

Alízia já tem blog !!!

Alízia já tem blog próprio: www.antaruxa.blogspot.com. Nom perdades de vista este diário literário-internético, que seguro nos vai proporcionar em diante umha boa cheia de minutos de intensidade poética. Muitos beijos e feliz singladura pola rede, minha caríssima Alízia. Por aquí queremos-te muito.

segunda-feira, agosto 23, 2004

Poema de Ramiro Vidal Alvarinho

O FOGAR RECUPERADO DAS IDEIAS
É fermoso construir-te, construir-me. Reciclar trabalho morto para lhe dar de novo sentido. Catarquizar-me com suor e ilusom para limpar-me de alienaçom. Andar os caminhos cara um mundo novo. Dessenhar a minha liberdade. Dignificar a tua história. Ensaiar os plurais da dissidência. Redefinir cada umha das tuas pedras. Encher de vida cada um dos teus recunchos. Reconstruír a minha dimensom social. É fermoso construir-te e que me construas. É fermoso voltar ao fogar.

quinta-feira, agosto 19, 2004

Livros em galego para o Bérzio

O amigo Igor Lugrís informou-me de umha campanha de recolhida de livros para o Bérzio, promovida pola associaçom Fala Ceibe (www.falaceibe.tk). Esta associaçom está a recolher livros em galego para doá-los depois a bibliotecas públicas daquela regiom, a condiçom de que no sucessivo dediquem umha parte dos fundos para adquirir novos volumens a incrementar os títulos em galego. Da campanha, podedes-vos informar na própria web, e se queredes colaborar podedes-vos dirigir ao próprio endereço electrónico de Igor Lugrís (ilugris@hotmail.com)

Versos de Artur Alonso Novelhe

Do seu poemário "Entre os teus olhos"



Aninhámos
Peito com peito
Perto do rio


Umha estaçom trémula
Pervivendo
Em aquele abandono
Luitava fugir a noite do Inverno


Com ida retorno

E dous ou três comboios a ferro
Nos tinham cercados

Aninhámos fontes
Cristalinas sombras
E fragâncias que se perdem
Vomitando chilreios
Entre regueiros carregados de pardais nos tectos

Para tentar nós deixar
de serem aqueles sem um nome próprio

perto do rio
no embarque dos salgueiros

remavam duas folhinhas,
teus pés indefesos

mas nós nom nos importávamos
com os sonhos daquele mundo

e atrás ficarom murmúrios
bocas dentadas quebrando suspiros
que alguém confundiu gemendo com as sombras

perto do rio
peito com peito

mudámos
tu
mais eu

coroas de flores que só nos pertencem
até deitar recostadas as pôlas da inocência

e jé nem ficam
pegadas de carril
que indiquem a sorte
qual é o horizonte

Irmandinh@s no Século XXI

O Festival Irmandinho de Moeche aguarda; um evento cultural que resistiu já duas décadas e que ganhou o respeito de todos aqueles e aquelas que nos dedicamos a percorrer Galiza de festival em festival; sobre tudo aqueles e aquelas que acodimos aos festivais folk e que gostamos de que os festivais ofereçam bons cartazes, mas também bom ambiente, e a poder ser um marco do que desfrutar.

Eu já combinei para esta cita ineludível com o meu primo, Pepe Teixido, um gajo excepcional que nom pertence à república das letras, ainda que sim é umha pessoa nom exenta de bagagem vital. É carpinteiro metálico e licenciado em Veterinária. Desde muito novo, apaixonado dos animais e da natureza. Outra das suas grandes paixons é a história, e sobretudo tudo aquilo relacionado com a cultura dos castros. Namorado da música e da festa é-o tanto como eu. É delegado sindical em IZAR – Ferrol pola CIG. É um grande conversador, e isso o poderá comprovar quem lhe turre um bocado da língua. Aínda ninguém se atreveu a comprovar até onde chega o seu fol. O kalimotxo e o licor café som o seu combustível em acontecimentos assim.

Também me hei encontrar com o Pepe Cunha, de quem vos tenho falado. Ele é o fornecedor oficial da malta de passes em concertos de pago, e um grande cultivador do jornalismo cultural, aliás de um incansável dinamizador social. Ele é quem me mantém informado sobre quem vai tocar em cada festival, mesmo em aqueles onde som freqüentes as mudanças de cartaz de última hora.

Graças a isto, poido-vos recomendar o cartaz apresentado para o Sábado no Festival Irmandinho, com Susana Seivane, Oskorri e Tejedor. O festival vai ser Sexta e Sábado, polo que é possível que já a Sexta nom renove o blog. Apresenta-se portanto quente a noite do Sábado, com essas três actuaçons com artistas de primeira ordem no panorama folk ibérico e mesmo europeu, aliás do tradicional assalto ao Castelo de Andrade, conmemorando a queima do castelo por parte dos camponeses levantados na revolta irmandinha contra o Senhor de Andrade.

terça-feira, agosto 17, 2004

Versos de Igor Lugrís, extraidos de "Mongólia"

Resistir nom é só bonbardear com palavras
E com silêncios
Os quarteis gerais do inimigo e os seus centros neurálgicos
É também perceber
E receber
A inesgotável sucessom de feitos que é o lento transcorrer
De dias e dias
E noites e manhás inteiras
Vendo só o que se escuita
E ouvindo a completa ausência

Umhas horas com Alízia

Este Sábado estivem com Alízia. Foi umha delícia estar com umha pessoa tam inteligente e simpática, à que eu aliás respeito e admiro tanto. O dia anterior no messenger convencera-me para que viajara até Monforte, para conhecer a vila e desfrutar das festas patronais que se estavam a celebrar naquele fim de semana. E nom lhe fixo falta demasiado esforço para conseguir que eu me decidira. Baixei da internet um horário de comboios e um plano de Monforte, e lá fum eu.

Estivemos a passear pola zona do campo da festa, ao pé do mosteiro dos Escolápios. E falando. Muito. E de tudo. De tudo o que nos unia e inquietava. Da Biblioteca Virtual Galega, na que há tempo que nengum dos dous publicamos nada. Da gente da BVG que também leva tampo sem publicar nada, e da que conservamos contacto nalgum caso, e noutros casos nom conservamos contacto nem pista qualquer. Falamos do Miguel Vento – nom é possível falarmos Alízia e mais eu sem falar de Miguel Vento – da Elvira, naturalmente, do muito que a admiramos e queremos, do interessante que está o blog do Alberte Momán, do ingénio desbordante do Mário Herrero, de Sabela...de Rosa Lois (Quê terá sido dessa mulher?) de Lilith13 – Pindusa, desaparecida também há messes...e de nós. De concursos, de futuros projectos, enfim. Desse livro meu que ia sair com a colecçom electrónica impulsionada por AGAL e que já nom vai sair. Do novo poemário que quer escrever Alízia, e do que me irá dando avanços que eu guardarei e nom farei públicos, sinto-o por vós (com um pouco de sorte, se a conhecedes, também vos mostra algo...) de que ela estivo em Oleiros, na Festa dos Mundos e nom me avisou (já lhe vale...) de que eu intentarei tirar em papel impresso o livro que nom vai sair na colecçom electrónica, e assim até que ela marchou e me deixou fazendo turismo etílico - festivo por Monforte adiante.

Forom horas de autêntica felicidade, nas que me sentim privilegiado com a presença e a atençom de alguém como Alízia. O verao, a fim de contas, está para isto. Para viajar e re-encontrarmo-nos com @s amig@s.

sexta-feira, agosto 13, 2004

A língua prohibida dos teus passos - Poema de Ramiro Vidal

Este poema dedico-lho a Susi, de Ribadeu, que tem problemas com umha bisbilhoteira católica. Derrubemos a sua moral infecta!!!




A luz apunhalada polo ódio, desde as esquinas
O vento furtado e mutilado
Sequestrarom o ar

As ruas som armadilhas;
Desde ângulos perdidos
Bisbilhotam ladainhas infames

Como infames as presenças e as vidas
Dos que exercem o ministério da opressom

Nom olhes trás de ti, mas nom fujas
Ergue a cabeça, aperta os dentes
Quebra o horizonte
E beija o sol

Os teus passos falam hoje um idioma prohibido;
A língua das luzes.

Derrete os gumes dos seus coitelos
Avançando cara a liberdade

A quem nos rouba as horas - Poema de Mário Herrero

Este poema pertence ao poemário "Cartografia da Atrocidade", do poeta corunhês Mário Herrero. Umha boa mostra da sua mordacidade despiadada, capaz de criar os versos mais descarnados e belos.


Näo haverá piedade no mundo,
Näo haverá para nós clemência,
Tempo para amarmos mulheres,
Horas para escrevermos um trilce,
Näo haverá desejos
Nem sangue nem deuses
Nem sequer um mal poema
Para lembrar o passo lento dos mortos
Pelos caminhos da vida.
Observa as lágrimas dos heróis,
Afogadas num céu de lixo.
Ouve como o silêncio
Exige hoje um sacrifício

quinta-feira, agosto 12, 2004

Salvemos o assentamento romano de Caldoval !!!

Escrevede-me ao meu e-co, e passo-vos as folhas





Sr.Alcalde de Mugardos
Av. de Galicia 45
MUGARDOS , 15620


D. .....................................................................................DNI. ........................................ en nome propio e co seguinte enderezo ..........................................................................................................................
do modo mais procedente en Dereito , MANIFESTO:


A comisión de Goberno do Concello de Mugardos concede unha licencia municipal para o “traslado “ do xacemento romano de “Caldoval” , segundo o acordo da comisión informativa de Urbanismo de data 23-06-2004 , motivado a unha solicitude de Reganosa de 27 de maio pasado, baseado nun documento da Dirección Xeral de Patrimonio de 14 de maio que autoriza dito traslado, sen ter realizado información pública e co elevado risco de perda de grande parte de seu valor patrimonial.

En visitas ás escavacións que estanse a realizar neste xacemento romano de Caldoval, acompañados de expertos , puidese coñecer que se trata de vestixios de moi alto VALOR PATRIMONIAL , con restos na superficie pertencentes aos séculos IV e V , que nas capas inferiores do solo alberga vestixios até o século II antes de Cristo , e dicir , uns SEIS CENTOS ANOS DE HISTORIA de poboadores dunha vila ou quinta romana , dedicados a pesca , cos restos Arqueolóxicos mellor conservados de Galiza que requiren varios anos de estudo antes de musealizalos , no que son os mais importantes vestixios romanos no golfo Ártabro.

Tamén púidose saber que construír un museo no mesmo lugar de orixe, do xacemento arqueolóxico romano do Caldoval , é a mellor opción cun custo aproximado aos cinco millóns de euros , para o que será fácil ficar partida orzamentaria dos fondos europeus e institucións do estado , toda vez que ese custe amortizarase en pouco tempo pola riqueza turística xerada , da que Mugardos recibirá moito máis do que pode aportar unha planta de Gas . Coa diferencia que un museo nese mesmo espazo orixinal de Punta Promontoiro pode permanecer nos séculos xerando riqueza turística , mentres que unha Planta de Gas ou as actuais instalacións de Forestal do Atlántico , terán unha duración limitada duns poucos decenios .

Estase a tempo de evitar sexa destruído o alto valor patrimonial e turístico que Mugardos tivo a sorte de herdar , chegando ate nosos días , cun potencial de xerar riqueza cultural, histórica e turística que se vería moi reducido co traslado dunha parte a outro lugar .
Os tres xacementos arqueolóxicos , romano de Caldoval, o castro celta de Mehá e o romano de Santa Lucía , ademais do de Noville, desde fai anos están catalogados por Patrimonio e contan no Plan Xeral de Ordenación Municipal.. Non se pode alegar seu descoñecemento por quen parecen dispostos a dilapidar o potencial cultural e histórico máis importante que posúe Mugardos , situación que podería a se comparar as minas de ouro que os indios en América permitiron saquear a cambio duns abelorios .

Non hai ningunha xustificación para o traslado dos xacementos arqueolóxicos. Reganosa non ten aprobada a Declaración de Utilidade Pública, pero ademais , eses xacementos romanos con 600 anos de antigüidade histórica , necesitan uns tres anos para seu estudio previo a súa musealización . As presas polo traslado poderían estar motivadas a que as obras da Planta de Gas poden ser paralizadas polo Xuíz ou Administración Central e o Grupo empresarial promotor quere acelerar a recalificación do solo industrial na chamada zona Oeste .

Polo dito COMUNICO QUE NON ESTOU DE ACORDO CO TRASLADO DO XACEMENTO ROMANO DE CALDOVAL, NEN DOS OUTROS XACEMENTOS . Como alternativa SOLICITO :

Que polo Concello de Mugardos se sume a quen xa solicitamos que sexan DECLARADOS BIC ,
( Ben de Interese Cultural ), e que o CONCELLO sexa quen xestione e coordine cos organismos competentes da Administración Autonómica, Central ou Europa , os estudos e finanzas necesarias para que ditos xacementos arqueolóxicos continúen no mesmo sitio orixinal que se encontran .

Ferrol , de Agosto de 2004

Asdo..



quarta-feira, agosto 11, 2004

O eterno dilema entre fidelidades... e outros temas

Ontem fum à Feira do Livro, na Corunha. Este ano, fum três dias; à inauguraçom, há quase duas semanas, o Domingo passado e ontem, que era o dia em que se clausurava a Feira. Como de costume, fixem o meu ritoal de consumismo cultural, ainda que cada ano a cita com a Feira do Livro se vê marcada em maior medida polos preços cada vez mais prohibitivos. Ainda assim, comprei. Ainda que nom exactamente o que queria comprar, o que seguramente é um indicativo de que som um mau comprador. Eu sempre compro, na Feira do Livro, dous livros; polo geral um em “galego” e outro em “português”; é umha parvoíce, provavelmente, mas eu fago-o por manter um equilíbrio entre fidelidades, ou seja, por um lado a fidelidade à minha pertença a um ámbito cultural galego, e pola outra a minha fidelidade ao ideário reintegracionista. Inclusso fago-o de umha maneira muito determinada, quero dizer, é umha questom que requer a sua cerimónia. Trato de ser fiel às minhas duas livrarias preferidas: Sisargas e Couceiro. No posto de Couceiro, este ano, comprei “Línguas e nacións em Europa”, de Daniel Baggioni, editado por Laiovento. Ontem, na caseta de Sisargas, comprei “Quando é dia de futebol”, de Carlos Drummond de Andrade. Som dous livros que prometem. Mas nom comprei um livro que queria comprar. Queria comprar “En Concreto”, de Luísa Villalta, porque como ela já nom vai poder assistir a nengumha Feira do Livro mais, ia ser como umha pequeninha homenagem. Mas enquanto Luísa me aguardava numha esquina dos Cantons de Méndez Núñez para me assinar o livro, eu falhei-lhe e nom cheguei. Espero que me saiva perdoar. Ela sabe que a aprezo, desde que nos conhecimos, lá polo ano 87, tendo ela trinta anos e eu dezaseis; sendo ela professora de Língua e eu o seu aluno. Eu era um entusiasta estudante de língua galega – deve ser umha das poucas disciplinas que apanhei com entusiasmo – e ela umha mulher atractiva e com um sentido do humor muito peculiar. Tinha um humor negro e umha ironia, provavelmente herança das conexions que, via familiar, lhe puidessem ficar com a cultura popular, mas expresados com um refinamento extremos. Era única deixando fora de lugar as impertinências daqueles rapazolos e rapazolas filh@s do auto-ódio e o desclassamento da emigraçom, nalgum caso, e da desorientaçom total que se vivia na recta final dos anos oitenta em geral, em todos os aspectos. A mocidade galega daqueles anos era...deprimentemente palurda. Era umha mulher culta e especial, que nom sei como se lhe ocorreu um dia que o seu futuro estava dando aulas de Língua, neste país, ou pior, no país que ia atopar de umha maneira imediata, quando saísse da faculdade de Filologia. Pensando de umha maneira egoísta, é impossível entender como num momento determinado toma tal decisom. O que se passa é que provavelmente ela era umha corredora de fundo nata, ou ao melhor simplesmente pensou num panorama laboral sem excessivos sobresaltos, que é o que principalmente pode oferecer o ensino...ou ao melhor as duas cousas; ao melhor há um bocadinho de romanticismo e ela pensava que desde o ensino se podia fazer ainda algumha cousa que contribuisse modestamente a transformar a sociedade e a sorte deste infortunado país. Seguramente seja por isso que a apreço e a admiro. Já comprarei esse derradeiro poemário, e quiçá esse dia dea umha volta polo cemitério de Santo Amaro, em Monte Alto, e alí, ao melhor, até pode que cruze um olhar cúmplice com a Luísa. Porquê tivo que morrer aos quarenta e sete anos, com tantas cousas por fazer e dizer, é umha pregunta que já nom me quero fazer mais. Eu inteirei-me do seu falecemento por Igor Lugrís. Estávamos a falar do recital da festa de inauguraçom do Centro Social Henriqueta Outeiro, de Compostela, que se ia celebrar em datas próximas, e quando já nos despediamos, o Igor dixo-me: “Morreu Luísa Villalta. Sabia-lo?”. Ele também se estava a inteirar nesse momento, pola página de Vieiros. Enfim, foi toda umha surpresa, umha macabra surpresa.

A questom é que eu cheguei ao posto de Sisargas e lá estava o Xurxo Souto. Eu queria comprar o poemário da Luísa Villalta, e nom o havia. Tinha dúvidas entom sobre se seguir o ritoal e comprar um livro na “norma internacional” do galego-português, ou algum livro em “galego” dos que gostaria comprar e nom sei se darei comprado no resto do ano; sobretudo alguns títulos sobre história e sobre língua, que som os meus temas preferidos...ou quiçá algum poemário (....”Número e”, de Estívaliz Espinosa...?).

Tinha que me decidir, e o Xurxo, que estava lá a substituir à irmá, fazia-me recomendaçons...e é um pau, isto de que te esteja a atender umha pessoa conhecida...e eu tinha que cumprir com o ritoal, assim que comprei este livro do Carlos Drummond Andrade, que de todos os jeitos promete, ao ser umha compilaçom de artigos sobre o poder do futebol na sociedade (brasileira) e sobre como os governos do Brasil utilizam o futebol para manipular ao povo. Interessante. Ainda que os artigos se escreverom nos anos setenta, quase nada terá cambiado a respeito deste tema, e o que tiver cambiado, terá sido seguramente a pior.

Temos que saudar, desde o Tangaranho Vermelho, umha nova iniciativa na rede; a criaçom de umha nova comunidade MSN chamada Cidadáns da Galiza (
www.cidgaliza.tk) aberta à participaçom de toda pessoa que se considerar nacionalista. Por enquanto há pouc@s membros no foro de discusom, mas já está a funcionar, à parte de haver outras secçons como um bate-papo e um foro de poesia.

Temos que saudar também umha magnífica iniciativa das Redes Escarlata, que venhem de tirar um livro dedicado à luita dos trabalhadores de Castromil, em cuja ediçom participa a Central Unitaria de Traballadores. Mais informaçom em
www.redesescarlata.org e www.elvirariveiro.blogspot.com

Tenho que voltar falar da minha caríssima Elvira Riveiro, que está a organizar a ediçom deste ano do recital “Poetas na rua”, umha iniciativa do Concelho de Poio destinada a dar a conhecer sobretudo @s poetas
nov@s. Se tens nom mais de trinta anos e queres participar, escreve a mareavermella@hotmail.com. Por enquanto, polo que puidem saber, está confirmada a participaçom da própria Elvira (como nom) Nana Coromoto e Alberte Momán. Por suposto, eu lá estarei também. E espero que a Elvira dea convencido a Alízia, para que também assista. O cenário do recital, será o casco histórico de Combarro. Muito sugestionante.

Também se achega o Festival da Poesia do Condado, que celebra em Salvaterra do Minho todos os anos a Sociedade Cultural e Desportiva do Condado (
www.scdcondado.org).

O 4 de Setembro, haverá em Salvaterra, baixo o lema “Em defesa das liberdades”, música e poesia. A parte poética, que estará conduzida por Carlos Blanco e Maria Castro Jato, poram-na Artur Alonso Novelhe, Xosé Maria Álvarez-Cáccamo, Marica Campo, Ana Belén Fernández, Carlos Figueiras, Antom Garcia Matos, Brais González Pérez, Maria Lado, Miguel Anxo Mato, Carlos Quiroga, Paula San Vicente, Marga do Val, José Luís Peixoto, Walter Hugo Mae, Jorge Reis-Sá, Sonia González e Ondjaki.

A música corre a conta de Terrakota, Mercedes Peón, Xistra de Coruxo e A Matraca Perversa.

Por último, convidar-vos a que visitedes a página
www.tarrio.tk, onde se informa da evoluiçom de umha campanha pola excarcelaçom de Xosé Tarrio, um histórico na luita polos direitos das pessoas presas (do que falaremos mais adiante nesta página) que está a passar por momentos realmente difíceis. Desde aquí um grito de liberdade que derrube os muros dos cárceres de extermínio.

terça-feira, agosto 10, 2004

"Arroz á cantonesa", de Elvira Riveiro

ARROZ Á CANTONESA

“Os maiores praceres deste mundo son os da lectura e os da carne”
The Pillow Book. Peter Greenaway

Había ocasións en que nin lembraba de qué xeito chegara a min Wei. Eran aquelas nas que a tardiña se demoraba entre poemas esparexidos polo piso e copas dun saboroso mencía que eu mesma fora buscar á casa duns labregos de Sober, ao pé das escarpadas encostas da sacra ribeira do Sil.
Wei viñera da China como un deleitoso presente remoto e inesperado. Un día abrinlle a porta e decidiu, para a miña ventura, permanecer entre as catro paredes que mal me amparaban do (in)mundo. Todo o noso tempo compartido dedicabámolo a honrar os gozos máis suculentos. A nosa cama era un chan estrado de sabas, pezas de roupa en anarquía, alfombras, almofadas... e alí recitabamos en singular desafío: se eu traía á boca os versos de Afonso Eanes do Coton , Fernando Esquio ou Pero da Ponte, el veña a cativarme con Wang Wei, Li Po ou Su Shih; se eu respondía coas “Posturas pra copular en homenaxe” de Ferrín, el agasallábame con Shu Ting... e así decorrían as horas e os versos regados a cada pouco por aquel caldo morno e afroitado nacido nas terras de Lemos.
Ás veces ficabamos tan ebrios de viño e poesía que Wei se erguía para ofrecerme máis dos seus gostosos praceres –non me fose eu restrinxir a aquelas dúas delicias-. Entón fechábase na cociña e saía ao pouco envolto no arrecendo dun apetitoso arroz á cantonesa que eu servía para min na donda curvatura do seu lombo cóncavo. Daquela, mentres eu me afanaba cos dedos e coa lingua no arroz e nas súas costas, a Wei dáballe por deitar tinta sobre as sabas e escribir con mestría caligráfica os versos que outrora agromaran dos seus labios. E Li Bai desfilaba en estrofas debuxadas con arte milenaria e maxistral ante as miñas pupilas ávidas de lírica e de cereal: “os sensatos, os austeros fican sos e esquecidos... bebe..”. E eu comía.

Lérez, 24-25/05/2003

Alízia: Nos meus dias sobram as palabras

Como vedes, andivem a fazer arrumaçons sem sucesso. Nisto da informática, som um pato. Queria que víssedes o rosto da minha admirada Alízia. Dá igual. Ficade com a sua voz a nadar entre estas linhas. Este fermoso texto, também é dela.

1 de outubro do 2003

Nos meus días sobran as palabras. Téñoas domesticadas na fondura do peito, ese lugar onde duran as lágrimas máis que o gozo. O frío. Talvez só queden os xestos para explicarme, as mans, os ollos cegos, labios abertos e húmidos, as ilusións perdidas, bocas amadas, ósos limpos baixo carne salferida de amor, cuspe, linguas e xemidos, soidade, xestos. Podo resistir, podo resistir, podo resistir.
Xosé Carlos Caneiro, “Os séculos da lúa”
Boa noite (ou tarde ao mellor), o gris típico das oito e media está transformándose xa nun negro máis
ben claro, por iso non sei se para ti isto é a noite ou a tarde. Nesta hora o aburrimento que parecía non acosarme aparece e vai aumentando á vez que se move o tempo; os minutos e as gotas de choiva. Podía ser agora ese estado a túa metáfora.
A ver se comezo un novo poemario hoxe ou mañá, apetéceme moito, case tanto como cando andaba a voltas co Semáforos en vermello, qué tempos... Un ano enteiro de versos nos que apareces ti e que no fondo ou no non tan fondo sempre son por e para ti. Supoño que neste último estará o desexo de protagonista, os xemidos andarán voando polas palabras adiante, e un brillo de meniñas saltará en cada encabalgamento abrupto.
Contareiche entón o pouco que fixen hoxe sen as túas mans nos rizos. Unha semana e media de clases e xa unha monotonía inmensa metida no arquivador das mazás que queren ser vermellas e nos pés e na cabeza e nas portadas dos libros novos e nos vaqueiros e no pensamento...
Erguinme moi cedo, ás sete os xeonllos facían un ángulo recto co colchón. A esa hora son os teus ollos a única imaxe posible, verdes imaxinados mirándome, véndome. Vender e ver como sinónimos case perfectos; “¿mércasme unha ollada para a colección?”, despois da pregunta un bico nas pálpebras.
Sempre esperto coa túa voz, sae da franela despaciño e báilame nas orellas, “quérote, quérote, quérote”. O verbo querer só pode dicirse deste xeito, hai que repetilo tres veces seguidas, respirar uns segundos o cheiro do que escoita, e voltar á reiteración. Intento eternizar cada sílaba, non perder nin un gramo do teu alento.
No vaso cordaesperanza o zume de laranxa sóubome a ti, lambinte enteiro grolo a grolo. Non me gusta apurar neste momento da mañá porque preciso coma nada que as papilas gustativas che percorran todos os recunchos da pel. Es tan branco dentro do meu cristal..., non sabes cánto desexo terte comigo agora mesmo e acompasar as lunacións que me queden ao ritmo do osíxeno.
Ás veces penso no difícil que me é explicarche o que te amo. “Es o mellor que me pasou na vida”, “non te poderei esquecer”, “adórote como a ninguén” non significan nada se estás diante, eu non viviría sen a túa mirada. Cando quedo calada e te bico é porque aparece a imposibilidade de converter en palabras o que sinto. O cuspe axúdame.
Escollín o último par de asentos e púxenme no lado da ventá, cando un dos dous está ocupado é coma se non existise o outro. ¿Nunca che pasou o de ver a unha persoa xa sentada e elixir un sitio no que poidas estar só?, cústame regalar un sorriso pola mañá se sei que non vas ser ti o receptor, o que me pasee as mans pola cara e me responda cun bico humidísimo. Soaba folk, primeiro as notas deixáronse saborear despaciño, logo do preludio lento apurou o ritmo ata chegar a un fin sen vacilacións. Lembreime do teu corpo xunguido ao meu.
Fixen unha lista de namorados, en cada clase unha parella literaria-marabillosa. Empecei por Adán e Eva, estaban nus, tirados na herba e aproveitando as liñas amarelas que se lles pousaban na epiderme, quen me dera terte espido enriba do verde deste suxeitador. Despois Margarita e Armando amábanse nunhas sabas brancas ata a loucura, Dumas sabía que a peor morte é pola ausencia, morrer de amor...¿para que vivir sen os teus beizos? En Verona, abrazada a Romeo como nunca o fixera, entendíame Xulieta. Nas pontes de Madison, Robert facíalle fotos a Francesca, entre os descansos un bico longo como intento de estirar cada intre. Ao estar chegando a hora do xantar veume á mente Tita, tumbada no chan dunha cociña, entre pratos e escumadeiras, susurrándolle a Pedro con acento mexicano o moito que devecía por el. Lorca pintaba versos para Dalí, agradecíalle unha a unha as cores que imaxinaban xuntos, eu necesito as túas palabras tanto como Dalí os poemas pintados de Lorca. E Ulises segue aínda neste mesmo minuto a pensar na súa Penélope cun fuso de castiñeiro entre os dedos finos.
Recordo moi pouco do resto do día, non entendo cómo podo ver as aulas tan baleiras ao estarte facendo cadro na cabeza. ¡Que ganas teño de comerte a bicos! Farei meu o lugar de hoxe do autobús, así agardo polos teus poros mentres xunto máis sorrisos para regalarche cando nos vexamos.
Quérote moitísimo, cada vez que te escoito máis, sábelo, así que non te poñas nunca mal porque hai infinitas parellas que non poden cruzar os movementos das pálpebras todos os amenceres. Se facemos isto será que nin a Catherine nin a Heathcliff se lles ocorrería envexarnos. Escribinche porque non podía deixar que estiveses así, o texto de Caneiro é para animarte, “podo resistir”, podemos facelo, prométocho.
Se cadra non queda demasiado para que me voltes a ver movéndome, xemíndoche na orella e bicándote sen pausa ninguna. Ámote tanto...
Un bico eterno, dos que sinto cando vai frío coma hoxe.







































Amig@s na rede...

Depois de algum tempo de parom, sem colar textos novos no blog, atopamo- nos com fólegos de abondo para ir editando post, com algum texto próprio por lá, algum texto alheio por cá...e hoje fazemos mençom a aqueles amigos e aquelas amigas que temos pola rede. E citamos os sítios onde @s podedes atopar, para que desfutar dos seus textos e pensamentos nom seja um prazer privado.

Elvira Riveiro ocupa um lugar de honor nesta página e eu espero em muito breve dispôr de algum texto para colar aquí. Desfrutar da sua poesia cheia de sensualidade, ternura e rebeldia aínda nom é possível em papel impresso, salvando algumha ediçom dos Relatos de Verán de La Voz de Galicia, mas tendes a possibilidade de lêr parte da sua obra em
www.bvg.udc.es, à parte de poder aprezar a sua faceta jornalística em www.culturagalega.org. Mas para quem nom ficar satisfeit@ com isso, eu recomendo Furor Scribendi, a sua bitácora pessoal, que atoparedes neste endereço: www.elvirariveiro.blogspot.com . Alí ides achar desde viagens, experiências pessoais de todo tipo, descobertas literárias, recomendaçons...até novas criaçons dela e textos de outros escritores e escritoras, galeg@s e do ámbito da lusofonia. A Elvira paga a pena conhecê-la, porque é umha pessoa sensível, dialogante e muito activa; tanto que desborda. Mas este país necessita, na cultura e em todos os campos, pessoas inquietas. Tivem a oportunidade de falar cara a cara com ela em duas ocasions. Umha delas num recital memorável celebrado em Compostela e intitulado Acción de amor; e melhor nom vos exprimo como é que se lhe chegou a chamar assim, mas o caso é que foi toda umha mostra de audácia por parte d@s companheir@s das Redes Escarlata (www.redesescarlata.org) todo um exercício de coerência em homenagem ao amor, porque...é possível o amor sem a audácia? Escandalizar aos passeantes domingueiros da Alameda, chantar-se a recitar poesia a toda voz no Mercado de Abastos ou cortar o tráfico na rua Aller Ulloa é audácia...e eu fiquei conmovido com esses actos de audácia. Outra das ocasions, recentemente no Festival da Terra e a Língua, que todos os anos organiza a Fundaçom Artábria (www.artabria.net) no moinho do Pedroso, em Naróm. O culpável da parte poética do evento é, por certo, Miguel Vento, de cuja obra também podedes têr noticia a travês da Biblioteca Virtual Galega. É um génio, que um dia ganhou um sobresaliente em Língua Galega (fazendo o Bacharel para Adultos) ao conseguir superar um repto plantejado pola sua profesora: escrever um poema que descrevesse um barco, mas sem levar a letra “e”. Paga a pena conhecê-lo, ainda que seja apenas para que che conte a estória. Pois Elvira, que é umha pessoa muito tímida – cousa que lhe tem causado nom poucos problemas – puido comprobar como um ainda o é mais...mas a pesar das minhas dificuldades para falar cara a cara, som muitas as horas que passamos no bate-papo a conversar sobre os temas mais diversos. A ver se nos re-encontramos aginha.

Este periplo pola rede nom pode continuar sem mencionar a outra das minhas escritoras predilectas: Alízia Fernández, ou Ferro, que também pode valer, segundo apetências, é umha acaparadora, no bom sentido da palavra, de prémios, e surpreende a sua madurez, o seu domínio da palavra, o seu dom incomparável para resgatar o sentido poético das cousas. Quando ganhou o último concurso de cartas de amor de Rádio Fene, a secretária do júri perguntou-lhe: “Nasceches no 76, nom é?” e ela, com toda a naturalidade e para a surpresa da sua interlocutora respondeu: “Pois nom; nascim no 86”. Com efeito; a minha amiga Alízia vai cumprir 17 anos o 16 de Novembro. Também a ela a podedes atopar na Biblioteca Virtual Galega.

Mencionar também a bitácora de Alberte Momán Noval, um ferrolano da minha geraçom, do 73, membro das Redes Escarlata, e na actualidade residente em Alhariz. O endereço é
www.albertemoman.blogspot.com. É um blog de pensamento político, de literatura e de rebeldia. Sentido crítico e conteúdo, fogindo de pedantarias e artifícios. Ontem re-encontrei-me com este blog, depois de muito tempo sem um momento para fazer umha parada e tomar umha raçom de versos cozinhados com o seu toque de combate; estava imerso em lides mais concretas, de política pura e dura, mas finalmente cheguei aló, fixem a minha consumiçom e deixei constáncia escrita da minha presença antes de marchar, como mandam as regras da cortesia.

Quem quixer humor, rebeldia estética, histrionismo e activismo lingüístico, que visite
www.pepilucibom.tk, a página da minha amiga Sabela, também umha novíssima rapariga, a sócia mais jovem da Associaçom Galega da Língua (www.agal-gz.org). Alí atoparedes sado-masoquismo a maço, estética punk e mitomania almodovariana. Nom perdades de vista o blog da Pépi, que tem ligaçom nessa mesma página (a Pépi é Sabela, claro).

Já daremos outro passeio pola rede, quiçá escrevamos um post sobre páginas políticas; por enquanto detemo-nos na página do também amigo Pepe Cunha; um Vila Podre de pro, impulsionador de
www.abretedeorellas.com, portal galego de cultura e lecer, altamente recomendado; jornalismo cultural feito com um grande sentido crítico e em língua galega, naturalmente. Anda embarcado o meu amigo José Luís Cunha num projecto ambicioso e realmente louvável: a criaçom de umha rádio livre em Trasancos: Rádio Filispím é como se chama o projecto, canalizado a travês do colectivo Opaí. A Lei de Grandes Cidades, que próximamente se aprovará em Ferrol é umha séria ameaça para este necessário e interessante projecto, mas a solidariedade das gentes da cultura de Trasancos é umha garantia de que isto nom vai ficar em augas de bacalhau...derrota trás derrota até a vitória final!!!

segunda-feira, agosto 09, 2004

Carne Triturada - Poema de Ramiro Vidal

CARNE TRITURADA

Podre mae prostituta,
Com a lírica decadente dos rostos da misséria,
Com a épica brutal das tuas gruas e os teus motores,
Com a pantofágia das tuas costras de cimento,

Com a dureza dos teus braços de asfalto; mae minha, sentinela dos meus anos…

…o teu ventre de chúvia é a minha casa, o meu caminho, a minha cançom, o meu metalúrgico riff banhado em versos slam…

…esta cidade tam puta e misserenta é esse poema violento tatuado na minha olhada,

um poema de luita operária, de violência racial, de desarraigo

de ruído de comboios agonizantes e enferrujados


de barcos esquecidos

de pessoas grises, sem esperança

de travesias dolorosas até um naufrágio seguro no teu estómago.

sábado, agosto 07, 2004

O Caminho da Glória - Poema de Ramiro Vidal

O CAMINHO DA GLÓRIA

Na Casa de Deus, o exército sinistro
De automatas
Os regimentos da brutalidade obscura
Com os seus ministros à cabeça
Fervem o ódio milenário dos caridosos

Muitas noites de frio e medo, muitos dias de fame, muitas guerras a arrassar naçons inteiras, muito amor de Deus e muita rapina

A castraçom de Europa, a postraçom do ser humano.

A perda da soberania das mentes. O salmo delirante da vossa virtude putrefacta. A morte de um judeu convertida numha orgia desenfrenada e macabra.

Quem liquidara a vossa abjecta tradiçom.

A cristiandade é um cântico grotesco numha noite da humanidade. Um delírium tremens.

Um abismo de sangue e santidade perversa.


quarta-feira, agosto 04, 2004

Cordaesperanza - Relato de Alízia Fernández

Ela tiña os ollos cordaesperanza, levaba nas meniñas o sabor do chocolate, nas pálpebras o liño todo.
Soñaba con ser princesa, ou crecha nova, ou presaxio agoiro vaticinio predicción. Idealizaba o brillo de froita da súa mirada e levantaba orbes coas unllas cheas de millo, mar e sabugueiro.
Estaba feita de porvir e promesas. A súa pel era un lenzo azul e branco inmenso enorme desmedido, os seus medos eran tres, mínimos pequeniños. O primeiro: que as mazarocas roubaran o escintileo dos seus iris ficticios; o segundo: que o salitre lle levara do ollar a esperanza; o terceiro: que o sámago se quedara co verde.
Nunca fora peneira do onírico, durmíase enriba das sabas de flores cursis pouco reais; nada que ver co sabugo que lle pingaba das mans, o océano que lle percorría os dedos e o maínzo que lle nacía na epiderme.
Cando tivo que mover as pestanas verticalmente para deixar na poza as utopías finxidas e as moedas xamais tiradas intentando desexos, quixo que o corpo completo se lle derretera moi despacio. Desexouno tantísimo tantísimo e apretando de tal xeito a cordaesperanza que comezou a despezarse pouco a pouco.
Subíronlle polos brazos regos de auga verdosa e enchéronlle os ollos de mar. Non salgaba o tempo nas súas dúas variantes (minutos e choiva) porque os seus saloucos eran tamén de chocolate. Íanse desfacendo as pingas doces co ritmo da navegación pola porcelana do universo enteiro, e co da música folk. Caéronlle das falanxes graos dourados e foron meterse no océano. Chorou aínda verde, chocolate con leite, esperanza. Puido erguer con tacto de liño a vista, mirar caracolas e mazorgas. Introducíronselle as follas do sabugueiro na derradeira imaxe. Remataron as bágoas de azucre pero a cordaesperanza non desapareceu.
Os medos mínimos pequeniños medraran, colleran os seus poros, transformáranse nun medo só, tan grande coma o lenzo azul e branco inmenso enorme desmedido.
Voou o terror ao saberse do mesmo tamaño que o medo. Levantouse, despacio, igual ca se derretera.
Ela tiña os ollos cordaesperanza, levaba nas meniñas o sabor do chocolate, nas pálpebras o liño todo.










Gilberto Gil insulta Povo Galego

Gilberto Gil insulta galegos em Santiago de CompostelaPor Cultura 01/08/2004 às 00:00

A presença do cantor brasileiro e ministro da cultura, Gilberto Gil, num concerto em Santiago de Compostela na Galiza no dia 19 de julho, causou indignação aos galegos e às galegas que estavam presentes. O cantor brasileiro se dirigiu ao público galego falando em castelhano, desprezando assim a cultura e a língua portuguesa da Galiza, também chamada galega. Gilberto Gil aproveitou a eventualidade para recriminar o "nacionalismo" galego, afirmando "Temos que ser mais internacionais" e justificou o uso da língua castelhana em seu discurso dizendo "además estamos en tierras de España!".
A questão não pode ser reduzida a discussão nacionalismo X internacionalismo. Tem muito mais a ver com a luta pela autodeterminação do povo galego e pela valorização de sua própria cultura. Na espanha há vários territórios e culturas que não se consideram espanhóis. Durante a ditadura do general Francisco Franco (1939-1975) para fortalecer a imagem nacionalista e fascista de uma "Espanha unida e forte" todos esses povos foram oprimidos. Tanto o galego, quanto o catalão, o Euskera (lingua do País Basco) e outras que já estão praticamente extintas, eram consideradas ilegais. Apesar das pessoas continuarem falando e pensando em suas linguas, era crime imprimi-las, usa-las nas escolas ou repartições públicas e mesmo por falar perto de um guarda a pessoa podia ter problemas.
Tal atitude se agrava pelo fato que o cantor e ministro brasileiro conhece a situação lingüística galega, sobre a qual foi informado em 2002 quando recebeu uma carta remetida pela
Assembléia da Língua a respeito da identidade lusófona da Galiza e sobre a sua precária situação.
É na Galiza que nasceu precisamente a língua portuguesa, e apesar dos mais de 500 anos de colonização que vem a sofrer por parte da Espanha castelhana, a proximidade lingüística mesmo com variedades e sotaques diferentes, permite o entendimento entre galegos, portugueses e brasileiros, sem precisar mudar a maneira de falar.
A luta do povo galego pela sua soberania política, pela preservação da milenária cultura de origem celta (que tem muito a ver com o resto de Europa atlântica e com países como Irlanda, Escócia e evidentemente Portugal) e da sua língua vem já desde o século XIX, mas sobretudo desde a ditadura espanhola.
O desprezo da cultura galega e o apoio ao espanholismo do ministro brasileiro, revela o não cumprimento da "Carta de São Paulo" - documento que defende claramente as identidades e diversidade cultural de povos do planeta - aprovado em um recente
encontro de ministros e ministras da Cultura em São Paulo, no chamado "Fórum Cultural Mundial", e a relação da política brasileira com os povos que sofrem a uniformização capitalista e a assimilação lingüística e cultural mais descarnada. Como a Galiza, que dia-a-dia luta pela garantia do seu direito a existência e preservação da sua cultura.

terça-feira, agosto 03, 2004

O Comboio - Poema de Ramiro Vidal Alvarinho

O comboio, animal asmático
Introduz-me na boca da besta
E eu revivo
A fisonomia vertiginosa dos arrabaldos.

O meu diálogo interior é com um sujo vinilo
Que tem tatuados os riffs daquele combate
Que um dia tivemos com a puta que pariu o mundo

Aquela épica que hoje já apenas se conserva em nebulosa

A besta, bebedora de azeite industrial, hoje é um cadáver onde moram

Dúzias de miles de missérias

Tu que foches a minha caverna e a minha deusa assassina

Hoje és umha seca bosta de vaca infectada de glória ressessa e sem sentido

E eu fago skate-board num metálico lóstrego que lambe, provocador, com lascívia

Os muros que chucharom a nossa juventude

Como saudando fachendoso
Umha parte mutilada do meu corpo